Um problema patológico
De forma indiscreta, o racismo é um dos maiores problemas em âmbito mundial que, de certa forma, em razão da história de opressão contra o povo negro ao longo dos séculos, encontra-se intrínseco em alguns costumes, culturas ou dogmas de certas sociedades. A partir disso, pode-se concluir que, embora seja extremamente difícil erradicá-lo, o combate contra o mesmo é essencial, especialmente em espaços de grande visibilidade, como as grandes ligas do futebol mundial.
Recentemente, o atleta brasileiro Vinicius Júnior, do Real Madrid sofreu novamente com mais um episódio de racismo durante o jogo contra o Real Sociedad válido pela semifinal da Copa do Rei. O momento, que fora flagrado em vídeo, ocorreu quando Vini estava perto de uma das laterais do campo e tornou-se alvo de xingamentos da torcida, em resposta, Vini Jr ironizou, pedindo mais barulho e sorrindo àqueles que o importunavam, todavia, enquanto o atleta estava virado de costas, um torcedor faz gestos imitando um macaco. De acordo com o veículo de notícias “Globo Esporte”, a LaLiga realizou uma denúncia formal à polícia do País Basco, que já identificou o responsável pelo ato e tomará as devidas medidas necessárias.
O futebolista ex-rubro-negro têm sido um dos maiores nomes na luta contra o preconceito racial e, com sua influência e proatividade, foi capaz de gerar drásticas mudanças no modus operandis (modo de operar) de diversas ligas europeias e, mais especificamente, da LaLiga, o maior e mais importante campeonato de pontos corridos da Espanha, cujo atleta atua.
LaLiga, Vinicius Jr. e o combate contra o racismo como banalidade
Em uma análise histórica, a LaLiga foi tardia para dar importância ao tema, o que, de certa forma e, em alinhamento com alguns fatores culturais (não generalizados) do país que atua (Espanha), acabaram transformando o racismo como algo banal nos estádios. Todavia, após a chegada avassaladora de Vinicius Junior na liga e a sua posição ativa de combate contra o preconceito racial, o cenário mudou.
O jogador brasileiro usou de sua visibilidade para cobrar posicionamentos mais duros e claros das autoridades esportivas, o que, impreterivelmente, fez com que a liga espanhola se tornasse mais participativa na promoção de campanhas contra o crime de racismo e aplicasse punições mais severas a esses atos.
O caso mais marcante, sem dúvidas, ocorreu em 2023, em que, durante uma partida contra o Valencia no Estádio Mestalla. Ao reclamar com a arbitragem, o jogador foi hostilizado pelos torcedores localizados atrás da meta de seu time. Os xingamentos incluíam gritos racistas e imitações de macaco. Diante das ofensas, o jogador apontou torcedores que tiveram tais atitudes e, consequentemente, o jogo foi interrompido por alguns minutos. O árbitro Ricardo de Burgos, que comandava a partida, alegou que o jogo apenas retornaria quando os xingamentos se cessassem. Após a partida, Vini Jr desabafou nas redes sociais, afirmando novamente a banalização do racismo na LaLiga e lamentou a Espanha ser vista como um país racista, o que, de acordo com ele, não era a correta percepção do país.
Em uma decisão inédita e, provavelmente influenciada pelo massivo apoio que o atleta recebeu de grandes nomes em todo o globo, a LaLiga denunciou os torcedores e, após o devido processo, três torcedores do Valencia foram condenados a oito meses de prisão e proibidos de entrar em estádios por dois anos devido aos atos racistas cometidos.
Embora os casos não tenham se encerrado pois, como dito anteriormente, trata-se de um problema patológico e relativamente banalizado, o combate ao racismo e a devida punição àqueles que o cometem diminui a ocorrência e traz justiça aos que sofrem com os atos. O papel da LaLiga e de atletas como Vinicius Júnior reforça o que caminha para se tornar uma política de tolerância zero contra qualquer preconceito causado pela cor da pele de outrem, transcendendo o limite apenas do esporte e sim alcançando a esfera global.
Premier League: uma referência no combate ao racismo
Indubitavelmente, a Premier League é uma referência em como uma grande liga deveria se comportar no combate ao racismo, aderindo a uma política de tolerância zero que envolve a aplicação de punições severas àqueles que infringem as regras. Embora, claro, o racismo ainda exista nos estádios, a liga inglesa tem trabalho em conjunto das autoridades locais para punir e conscientizar torcedores acerca da gravidade do problema.
Dentre alguns casos recentes, podemos destacar o episódio ocorrido com o futebolista francês Wesley Fofana que, defendendo as cores do Chelsea contra um de seus arquirrivais, o Arsenal, sofreu com insultos racistas nas redes sociais após derrota dos blues na partida válida pela 29ª rodada da Premier League. Ao expor os ataques, comentários e mensagens em seu Instagram, afirmou que “a estupidez e a crueldade não podem mais se esconder”. Em resposta, a Premier League declarou apoio total ao futebolista e ao clube londrino na investigação e denúncia das pessoas que cometeram tais atos, enfatizando a tolerância zero e a posição ativa na luta contra o racismo.

Ademais, também podemos citar mais um exemplo emblemático, em que, no ano de 2023, um torcedor do Everton, em um derby contra o Liverpool, foi flagrado proferindo insultos de cunho racista direcionados ao atacante egípcio Mohamed Salah. O torcedor fora identificado e abordado pelos seguranças do estádio do time da casa, o Anfield, o que culminou em seu julgamento e condenação pelo Tribunal de Magistrados de Sefton no ano seguinte. Sua pena, cujo cumpre atualmente, consiste na proibição por três anos de frequentar qualquer estádio no Reino Unido e uma multa de aproximadamente 500 libras esterlinas. Além disso, durante o período de banimento, o torcedor é obrigado a entregar seu passaporte às autoridades locais quando o Everton jogar fora da Inglaterra e deve manter-se sempre a 1.6km de distância de qualquer estádio onde o Everton esteja atuando.
Ambos os exemplos demonstram a preocupação da Premier League em relação ao tema, deixando a mensagem clara de que atos racistas não serão tolerados nos estádios durante jogos da liga, o que faz deles uma grande referência na luta e combate ao racismo não apenas no futebol, mas também em escala global, graças a sua influência.
O caso Aranha: Brasil e a tolerância ZERO!
É fato que, quando tratamos de Brasil, tratamos de um país que passou por um longo processo de miscigenação ao longo de sua evolução histórica. Entretanto, mesmo diante de tamanha riqueza e diversidade de culturas, infelizmente, episódios de racismo ainda ocorrem em diversas esferas da sociedade, inclusive no esporte e, mais especificamente, no futebol.
O caso do goleiro Aranha, em 2014, tornou-se um emblemático marco histórico na luta contra o racismo no futebol brasileiro. Durante uma partida válida pelas Oitavas de Final da Copa do Brasil entre Grêmio e Santos, realizada na Arena do Grêmio, em Porto Alegre, o goleiro que defendia a meta do Alvinegro Praiano sofreu com insultos racistas por parte de alguns torcedores gremistas. As imagens, que ganharam repercussão nacional em questão de instantes, mostravam tais torcedores fazendo gestos ofensivos, proferindo xingamentos raciais e replicando sons de macaco direcionados ao jogador.

Perante tamanha repercussão e vergonhosa atitude, o Superior Tribunal de Justiça Desportivo (STJD) puniu severamente o Tricolor Gaúcho, excluindo o clube da competição e aplicando uma multa financeira de R$54.000,00, além da suspensão de cinco torcedores dos estádios por 720 dias.
O episódio relatado fora extremamente significativo no combate ao racismo em âmbito do esporte brasileiro, sendo a primeira vez que uma equipe brasileira recebeu uma punição verdadeiramente exemplar pela prática racista de seus torcedores, revelando, assim como na Premier League, a postura de tolerância zero contra qualquer manifestação de racismo, sobretudo em espaços de tamanha visibilidade como o futebol.
Hodiernamente e, sem dúvidas, graças a casos como o do goleiro Aranha ou as recorrentes injúrias sofridas por Vini Jr., notamos diversas campanhas de conscientização e do combate ao racismo no Brasil.
Já em 2025, na semifinal do Campeonato Paulista entre Palmeiras e São Paulo, os clubes, embora que rivais, se uniram contra as práticas racistas nos estádios em razão dos ocorridos com o atacante palmeirense Luighi contra o Cerro Porteño, na Libertadores Sub-20, revelando tamanha preocupação e exaustão acerca do tema.
A resistência
Em síntese, é evidente que o racismo ainda é uma triste realidade presente no futebol mundial, refletindo problemas sociais que ultrapassam qualquer barreira do esporte. Todavia, ações proativas de apoio ao combate de tal patologia sociológica, como o ativismo de Vinicius Júnior, a firme postura da Premier League, as medidas tomadas no Brasil após o caso do goleiro Aranha ou do atacante Luighi e muitas outras não citadas aqui, indicam que existem avanços significativos no combate ao preconceito racial em todo o globo.
Neste texto, buscamos esclarecer que, mais do que nunca, fica claro que a luta contra o racismo deve ser diária, consistente e irrestrita. A tolerância zero contra práticas discriminatórias não se trata de apenas uma política, e sim um dever, sendo imprescindível para construir um ambiente livre de preconceito no futebol. Para que assim, com sua influência mundial, se torne uma ferramenta poderosa na transformação social contra qualquer tipo de discriminação, mais especificamente, como abordada neste texto, a racial.
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