Fórmula E 2023: corrida volta ao território brasileiro após 9 anos

Neste fim de semana, o 5º E-prix da temporada será realizado em São Paulo, no sambódromo do Anhembi, pela primeira vez na sua história


Por Insper Sports Business

23 de março de 2023

Parceria Editorial

Logo Parceiro INSPER SPORTS BUSINESS
Fórmula E 2023: corrida volta ao território brasileiro após 9 anos Fórmula E 2023: corrida volta ao território brasileiro após 9 anos

A Fórmula E enfim está voltando ao solo brasileiro após 9 anos. No dia 25 de março, o 5º E-prix da temporada será sediado em São Paulo, no sambódromo do Anhembi, pela primeira vez na sua história. Este evento pode ser novo para o público brasileiro, mas os fãs da categoria estarão extremamente ansiosos para assistir à corrida em um país histórico para o automobilismo, em um circuito que já recebeu grandes prêmios da Fórmula Indy.

O evento começará na sexta-feira (24), com o primeiro treino livre e o shakedown – primeiro contato dos carros com a pista. Já no dia da corrida (25), previamente haverá o segundo treino livre, seguindo para classificação e logo em seguida a corrida em si. Ambos os treinos serão transmitidos no canal do YouTube da F-E ou na Bandsports – tanto a classificatória quanto a corrida serão transmitidas pela Band.

Na atual temporada, após 5 rodadas, o alemão Pascal Wehrlein, da Tag Heuer lidera a competição com 80 pontos, logo atrás vem o britânico Jake Dennis e o francês Jean-Éric Vergne nas colocações seguintes. Os brasileiros Lucas di Grassi, da Mahindra Racing, e Sérgio Sette Câmara, da NIO 333, se encontram na 10ª e 15ª colocação geral, respectivamente, sendo que Grassi conquistou o pódio (3ª colocação) na primeira corrida realizada.

Diferente da Fórmula 1, todos os pilotos da Fórmula E utilizam o mesmo carro, tornando a temporada mais competitiva. Além disso, é a única categoria com carros 100% elétricos, contando com uma terceira geração de automóveis podendo atingir até 322 km/h – o modelo mais veloz e sustentável feito até hoje.

Etapa no Brasil

A categoria teve algumas opções para escolher o melhor circuito no Brasil, tendo os estados do Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo como opção. Para o último, foi projetada uma prova que passava por dentro do Parque Ibirapuera, sendo rejeitada por alterar muito a mobilidade urbana da região. A escolha, portanto, foi pelo circuito do Anhembi, que não gerará gastos em relação à estrutura da prova, já que irão reutilizar a organização física da corrida da Fórmula Indy disputada no país até 2013. O trajeto recebeu algumas mudanças, porém a mais significativa foi não utilizar a via local da marginal Tietê para não prejudicar o tráfego local.

A etapa brasileira vai contar com a maior reta da categoria. A ideia é que os carros, de geração 3, consigam alcançar a velocidade nunca atingida pelos motores anteriores, podendo atingir ápice já supracitado. Ademais, contará com chicanes e “curvas de baixa”, na intenção de gerar uma recarga da bateria, de até 40% durante a prova.

O estado de São Paulo é conhecido como a terra da garoa, tal clima traz mais emoção e dinâmica para o automobilismo. Seja pelas trocas dos pneus específicos para a chuva ou para ver qual piloto tem maior habilidade em guiar um carro a 300km/h nessa circunstância. Este é um fator que poderá deixar o E-prix mais interessante, entretanto pode incapacitá-lo de ocorrer, pois dependerá das condições da pista. Importante salientar que a categoria não trabalha com uma gama de pneus para cada situação de prova, como comumente ocorre, apenas é utilizado um tipo de pneus. Os pneus são híbridos, o que permite que sejam utilizados em qualquer condição climática – além de gerar menos poluição em sua produção, permite que os monoblocos se aproximem mais dos carros do dia a dia.

Dessa forma, as empresas podem deixar o espetáculo mais emocionante e equilibrado. O diferencial na categoria será quem está por trás do volante. Há uma outra razão para essa escolha, a ambição da Fórmula-E é alavancar as tecnologias para que possam ser implementadas nos carros comerciais em um futuro próximo. Portanto, pensando em uma aproximação entre os dois mundos, a escolha de um pneu semelhante ao de um carro tradicional, foi certeira.

Impacto na cidade

Previamente foi feito um contrato entre os representantes da categoria juntamente da Prefeitura, SPTuris e GL Eventos – empresa administradora do Anhembi. O acordo feito tem duração de 5 anos, podendo ser estendido por mais cinco caso tudo ocorra como planejado.

Com a ajuda do prefeito Ricardo Nunes, as negociações entre a F-E e a prefeitura de São Paulo foram longas, mas no fim tudo deu certo para a corrida ocorrer na maior cidade da América Latina. O poder municipal divulgou recentemente que espera gerar cerca de 2 mil empregos relacionados ao evento, além de outros milhares de postos de trabalho de forma indireta. Ademais, é esperado que a prefeitura de São Paulo gaste cerca de R$ 38 milhões, sendo R$ 30 milhões para montagem de estruturas e o restante para realizações de obras. A partir de 2024, o e-Prix pode chegar a custar R$ 22 milhões. Por outro lado, o impacto estimado da corrida é que gere um valor superior a R$ 300 milhões para o município.

“A cidade recebe milhares de eventos culturais, esportivos e de negócios todos os anos, e ter a Fórmula E no nosso calendário é motivo de orgulho e comemoração. Uma corrida com carros exclusivamente elétricos também vem de encontro do nosso Programa de Metas, que tem os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)” como premissa de concepção e execução em cada um dos seus 77 pontos”, disse o prefeito Ricardo Nunes.

Parcerias da Fórmula E

Logo no início do projeto da Fórmula E, os melhores fabricantes do mundo começaram a entrar voluntariamente na competição, assim como os pilotos, que vieram de diversas ótimas séries de corridas. Para quem queria patrocinar o esporte, havia uma combinação perfeita: uma mistura de ação, tecnologia, sustentabilidade e rapidez. Dessa forma, empresas líderes mundiais em seus setores, tais como Allianz, Heineken, Hugo Boss, Tag Heuer e diversas outras, se juntaram rapidamente à Fórmula E.

A Enel – companhia de energia – fechou um acordo com a categoria na etapa que acontecerá em São Paulo. A empresa do setor energético garantiu uma condição especial na pré-venda para os ingressos do e-Prix, dando cupons e benefícios que podiam ser retirados nas redes sociais da companhia.

“A Enel Brasil levará sua energia para a etapa nacional da Fórmula E como forma de promover diálogos sobre a relevância da mobilidade elétrica, eletrificação e smart cities”, disse Janaína Vilela, diretora de comunicação da Enel no Brasil.

História e ambições da Fórmula E

Em 2011, iniciou-se a licitação para a criação de uma categoria completamente elétrica. Havia um prazo para essa ideia sair do papel, exatamente em setembro de 2014. A preferência dos idealizadores sempre foi pelos circuitos de rua e desta forma segue até hoje, salvo a exceção do E-prix da cidade do México, que ocorre no mesmo autódromo da Fórmula 1. O favoritismo desses circuitos se deu pelo objetivo de concretizar as tecnologias a serem implementadas no mercado.

Um “business plan” bem estruturado é extremamente essencial para captar investidores ao seu negócio, mas para o automobilismo duas coisas são primordiais, o carro e o piloto, então, em 2012, um carro das categorias de base foi eletrificado e o piloto brasileiro, Lucas di Grassi, foi contratado para realizar os testes. Após apresentações, iniciou-se a captação de capital e auxílio de tecnologia para os 42 carros já reservados, sendo o primeiro patrocinador um velho conhecido do mundo das corridas, a renomada marca de relógios Tag Heuer. Já para o carro, a Mclaren ficou responsável pelo motor, a bateria ficou com a Williams e a Renault com os softwares, três aglomerados com uma enorme bagagem no automobilismo tendo presenças até hoje na Fórmula 1.

Apesar de São Paulo receber o espetáculo neste sábado (25), a primeira corrida oficial seria no Rio de Janeiro, o que não aconteceu por falta de acordos, por isso os 20 pilotos e os 40 carros, foram iniciar a história da competição na China. No início, havia a necessidade de 2 carros por piloto, isso se dava pela a tecnologia da época, em que a autonomia do motor não tinha a capacidade de finalizar a corrida, logo o pit-stop era a troca de carro.

A primeira corrida foi ganha pelo brasileiro Lucas di Grassi e o primeiro campeão de pilotos também foi outro brasileiro, Nelsinho Piquet, que conquistou o título literalmente na última volta, com auxílio de Bruno Senna, que segurou o principal rival ao título. Já Lucas di Grassi, perdeu o título da 2º temporada na última corrida, mas conquistou a taça na terceira temporada. Outros brasileiros passaram pelos assentos dos monopostos elétricos: Felipe Nasr competiu apenas 2 corridas, Sérgio Sette Câmara atua até hoje na categoria e o mais conhecido do público brasileiro, que foi postulante ao título da Fórmula 1, Felipe Massa, correu por 2 temporadas pendurando as luvas no final de 2020.   

Falta de equipes campeãs no grid

A Fórmula E quando surgiu começou a ter uma popularidade grande rapidamente. Devido à atrativa tecnologia nos automóveis, o público cada vez mais se interessava pela categoria. Porém nos últimos anos, essa popularidade foi caindo e as grandes fábricas que faziam parte do grid com altos custos começaram a questionar-se até quanto era sustentável viver com estabilidade.

No final da temporada 2022, como já havia anunciado previamente, a Mercedes deixou o grid. Mesmo passando por uma situação financeira complicada, a surpresa foi a Techeetah também ter deixado a competição.

Dessa forma, algo inusitado acontece nessa temporada, não há nenhuma equipe campeã, como era composta, no grid. Tanto Mercedes, na qual conquistou as últimas duas competições, quanto a Techeetah, em que venceram as outras duas anteriores, saíram nessa temporada. Além disso, a Audi, vencedora em 2018, deixou o grid no final de 2021. Já a equipe campeã das três primeiras edições, Renault e.dams, já não fazem parte da mesma parceria como antigamente.

Por Rennan Bianchi e Thiago Leitão