A Fórmula E enfim está voltando ao solo brasileiro após 9 anos. No dia 25 de março, o 5º E-prix da temporada será sediado em São Paulo, no sambódromo do Anhembi, pela primeira vez na sua história. Este evento pode ser novo para o público brasileiro, mas os fãs da categoria estarão extremamente ansiosos para assistir à corrida em um país histórico para o automobilismo, em um circuito que já recebeu grandes prêmios da Fórmula Indy.
O evento começará na sexta-feira (24), com o primeiro treino livre e o shakedown – primeiro contato dos carros com a pista. Já no dia da corrida (25), previamente haverá o segundo treino livre, seguindo para classificação e logo em seguida a corrida em si. Ambos os treinos serão transmitidos no canal do YouTube da F-E ou na Bandsports – tanto a classificatória quanto a corrida serão transmitidas pela Band.
Na atual temporada, após 5 rodadas, o alemão Pascal Wehrlein, da Tag Heuer lidera a competição com 80 pontos, logo atrás vem o britânico Jake Dennis e o francês Jean-Éric Vergne nas colocações seguintes. Os brasileiros Lucas di Grassi, da Mahindra Racing, e Sérgio Sette Câmara, da NIO 333, se encontram na 10ª e 15ª colocação geral, respectivamente, sendo que Grassi conquistou o pódio (3ª colocação) na primeira corrida realizada.
Diferente da Fórmula 1, todos os pilotos da Fórmula E utilizam o mesmo carro, tornando a temporada mais competitiva. Além disso, é a única categoria com carros 100% elétricos, contando com uma terceira geração de automóveis podendo atingir até 322 km/h – o modelo mais veloz e sustentável feito até hoje.
Etapa no Brasil
A categoria teve algumas opções para escolher o melhor circuito no Brasil, tendo os estados do Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo como opção. Para o último, foi projetada uma prova que passava por dentro do Parque Ibirapuera, sendo rejeitada por alterar muito a mobilidade urbana da região. A escolha, portanto, foi pelo circuito do Anhembi, que não gerará gastos em relação à estrutura da prova, já que irão reutilizar a organização física da corrida da Fórmula Indy disputada no país até 2013. O trajeto recebeu algumas mudanças, porém a mais significativa foi não utilizar a via local da marginal Tietê para não prejudicar o tráfego local.
A etapa brasileira vai contar com a maior reta da categoria. A ideia é que os carros, de geração 3, consigam alcançar a velocidade nunca atingida pelos motores anteriores, podendo atingir ápice já supracitado. Ademais, contará com chicanes e “curvas de baixa”, na intenção de gerar uma recarga da bateria, de até 40% durante a prova.
O estado de São Paulo é conhecido como a terra da garoa, tal clima traz mais emoção e dinâmica para o automobilismo. Seja pelas trocas dos pneus específicos para a chuva ou para ver qual piloto tem maior habilidade em guiar um carro a 300km/h nessa circunstância. Este é um fator que poderá deixar o E-prix mais interessante, entretanto pode incapacitá-lo de ocorrer, pois dependerá das condições da pista. Importante salientar que a categoria não trabalha com uma gama de pneus para cada situação de prova, como comumente ocorre, apenas é utilizado um tipo de pneus. Os pneus são híbridos, o que permite que sejam utilizados em qualquer condição climática – além de gerar menos poluição em sua produção, permite que os monoblocos se aproximem mais dos carros do dia a dia.
Dessa forma, as empresas podem deixar o espetáculo mais emocionante e equilibrado. O diferencial na categoria será quem está por trás do volante. Há uma outra razão para essa escolha, a ambição da Fórmula-E é alavancar as tecnologias para que possam ser implementadas nos carros comerciais em um futuro próximo. Portanto, pensando em uma aproximação entre os dois mundos, a escolha de um pneu semelhante ao de um carro tradicional, foi certeira.
Impacto na cidade
Previamente foi feito um contrato entre os representantes da categoria juntamente da Prefeitura, SPTuris e GL Eventos – empresa administradora do Anhembi. O acordo feito tem duração de 5 anos, podendo ser estendido por mais cinco caso tudo ocorra como planejado.
Com a ajuda do prefeito Ricardo Nunes, as negociações entre a F-E e a prefeitura de São Paulo foram longas, mas no fim tudo deu certo para a corrida ocorrer na maior cidade da América Latina. O poder municipal divulgou recentemente que espera gerar cerca de 2 mil empregos relacionados ao evento, além de outros milhares de postos de trabalho de forma indireta. Ademais, é esperado que a prefeitura de São Paulo gaste cerca de R$ 38 milhões, sendo R$ 30 milhões para montagem de estruturas e o restante para realizações de obras. A partir de 2024, o e-Prix pode chegar a custar R$ 22 milhões. Por outro lado, o impacto estimado da corrida é que gere um valor superior a R$ 300 milhões para o município.
“A cidade recebe milhares de eventos culturais, esportivos e de negócios todos os anos, e ter a Fórmula E no nosso calendário é motivo de orgulho e comemoração. Uma corrida com carros exclusivamente elétricos também vem de encontro do nosso Programa de Metas, que tem os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)” como premissa de concepção e execução em cada um dos seus 77 pontos”, disse o prefeito Ricardo Nunes.
Parcerias da Fórmula E
Logo no início do projeto da Fórmula E, os melhores fabricantes do mundo começaram a entrar voluntariamente na competição, assim como os pilotos, que vieram de diversas ótimas séries de corridas. Para quem queria patrocinar o esporte, havia uma combinação perfeita: uma mistura de ação, tecnologia, sustentabilidade e rapidez. Dessa forma, empresas líderes mundiais em seus setores, tais como Allianz, Heineken, Hugo Boss, Tag Heuer e diversas outras, se juntaram rapidamente à Fórmula E.
A Enel – companhia de energia – fechou um acordo com a categoria na etapa que acontecerá em São Paulo. A empresa do setor energético garantiu uma condição especial na pré-venda para os ingressos do e-Prix, dando cupons e benefícios que podiam ser retirados nas redes sociais da companhia.
“A Enel Brasil levará sua energia para a etapa nacional da Fórmula E como forma de promover diálogos sobre a relevância da mobilidade elétrica, eletrificação e smart cities”, disse Janaína Vilela, diretora de comunicação da Enel no Brasil.
História e ambições da Fórmula E
Em 2011, iniciou-se a licitação para a criação de uma categoria completamente elétrica. Havia um prazo para essa ideia sair do papel, exatamente em setembro de 2014. A preferência dos idealizadores sempre foi pelos circuitos de rua e desta forma segue até hoje, salvo a exceção do E-prix da cidade do México, que ocorre no mesmo autódromo da Fórmula 1. O favoritismo desses circuitos se deu pelo objetivo de concretizar as tecnologias a serem implementadas no mercado.
Um “business plan” bem estruturado é extremamente essencial para captar investidores ao seu negócio, mas para o automobilismo duas coisas são primordiais, o carro e o piloto, então, em 2012, um carro das categorias de base foi eletrificado e o piloto brasileiro, Lucas di Grassi, foi contratado para realizar os testes. Após apresentações, iniciou-se a captação de capital e auxílio de tecnologia para os 42 carros já reservados, sendo o primeiro patrocinador um velho conhecido do mundo das corridas, a renomada marca de relógios Tag Heuer. Já para o carro, a Mclaren ficou responsável pelo motor, a bateria ficou com a Williams e a Renault com os softwares, três aglomerados com uma enorme bagagem no automobilismo tendo presenças até hoje na Fórmula 1.
Apesar de São Paulo receber o espetáculo neste sábado (25), a primeira corrida oficial seria no Rio de Janeiro, o que não aconteceu por falta de acordos, por isso os 20 pilotos e os 40 carros, foram iniciar a história da competição na China. No início, havia a necessidade de 2 carros por piloto, isso se dava pela a tecnologia da época, em que a autonomia do motor não tinha a capacidade de finalizar a corrida, logo o pit-stop era a troca de carro.
A primeira corrida foi ganha pelo brasileiro Lucas di Grassi e o primeiro campeão de pilotos também foi outro brasileiro, Nelsinho Piquet, que conquistou o título literalmente na última volta, com auxílio de Bruno Senna, que segurou o principal rival ao título. Já Lucas di Grassi, perdeu o título da 2º temporada na última corrida, mas conquistou a taça na terceira temporada. Outros brasileiros passaram pelos assentos dos monopostos elétricos: Felipe Nasr competiu apenas 2 corridas, Sérgio Sette Câmara atua até hoje na categoria e o mais conhecido do público brasileiro, que foi postulante ao título da Fórmula 1, Felipe Massa, correu por 2 temporadas pendurando as luvas no final de 2020.
Falta de equipes campeãs no grid
A Fórmula E quando surgiu começou a ter uma popularidade grande rapidamente. Devido à atrativa tecnologia nos automóveis, o público cada vez mais se interessava pela categoria. Porém nos últimos anos, essa popularidade foi caindo e as grandes fábricas que faziam parte do grid com altos custos começaram a questionar-se até quanto era sustentável viver com estabilidade.
No final da temporada 2022, como já havia anunciado previamente, a Mercedes deixou o grid. Mesmo passando por uma situação financeira complicada, a surpresa foi a Techeetah também ter deixado a competição.
Dessa forma, algo inusitado acontece nessa temporada, não há nenhuma equipe campeã, como era composta, no grid. Tanto Mercedes, na qual conquistou as últimas duas competições, quanto a Techeetah, em que venceram as outras duas anteriores, saíram nessa temporada. Além disso, a Audi, vencedora em 2018, deixou o grid no final de 2021. Já a equipe campeã das três primeiras edições, Renault e.dams, já não fazem parte da mesma parceria como antigamente.
Por Rennan Bianchi e Thiago Leitão