Em toda a Holanda e em grande parte da Europa, o Ajax é conhecido como um “clube judeu”. A cidade onde o clube fica localizado, Amsterdã, é tradicionalmente considerada uma cidade judaica, conhecida na primeira metade do século XX como a “Jerusalém Ocidental”. Antes da Segunda Guerra Mundial, 80.000 dos 140.000 judeus presentes na Holanda viviam na cidade holandesa, a maioria deles torcedores do Ajax.
A razão principal dessa relação é o Jodenbuurt (o histórico gueto judeu no centro da cidade), que fica muito próximo da atual Amsterdam Arena. Hoje, a alma judaica da cidade está relativamente enfraquecida em comparação com aqueles anos, apesar de as comunidades não terem perdido a sua forte ligação à cultura e religião hebraica.
Panorama histórico
Cerca de 140 mil judeus, incluindo 15 mil que fugiram da Alemanha, viviam no país quando foi invadido pelos alemães em 1940, segundo o Yad Vashem, museu memorial do Holocausto em Jerusalém. Não demorou muito para que leis antissemitas fossem promulgadas e as deportações para campos de extermínio começassem. Nenhum outro país teve tantas mortes, exceto a Polônia, que perdeu 90% dos seus habitantes judeus.
Aumento do antissemitismo
Atualmente, a ligação entre o Ajax, a comunidade judaica e o antissemitismo continua a ser uma questão altamente controversa na política do país. As ofensas antissemitas se enquadram em uma tendência crescente tanto na Holanda quanto na própria Europa. De acordo com um relatório publicado pela União Europeia em dezembro de 2018, 34% dos judeus holandeses disseram que evitam visitar locais ou eventos judaicos porque não se sentem seguros.
Casos no futebol holandês incluem torcedores do Feyenoord insultando os torcedores do Ajax sobre as vítimas do Holocausto e torcedores do AZ Alkmaar atacando a torcida durante um jogo de 2017. A relação entre os judeus e os fãs do Ajax é antiga, mas grupos radicais estão usando esse recorte histórico para atacar grupos minoritários com a desculpa da rivalidade do futebol.
Os “Super Judeus” do Ajax
A presença de uma formação cultural de origem judaica explica apenas parcialmente a escolha dos torcedores mais fervorosos do Ajax de se autodenominarem “Super Judeus”. Ao longo da história, as rivalidades com outros times (especialmente Feyenoord e ADO Den Haag, equipes de Roterdã e Haia, respectivamente) são muitas vezes ilimitadas em ofensas antissemitas contra os torcedores do Ajax.
Para responder a essas ofensas, alguns torcedores começaram a reagir, adotando a bandeira israelense como símbolo e usando a Estrela de Davi durante os jogos.
Medidas de combate
Desde 2016, a KNVB, órgão dirigente do futebol holandês, reúne-se com grupos judaicos para discutir o combate aos cânticos antissemitas nos estádios. O órgão criou um grupo de trabalho juntamente com vários grupos de interesse social para combater a discriminação como um todo.
As sanções foram aumentadas, e os clubes receberam multas mais elevadas, encerramentos parciais de estádios e banimento de indivíduos por até cinco anos por conta de cânticos antissemitas. Além disso, foi criado um programa educativo para combater o preconceito no futebol.
