Nesta sexta-feira (24/02), começará a décima-primeira edição do Campeonato Brasileiro Feminino. Por muito tempo negligenciada pelo público e grandes veículos, a modalidade feminina do esporte vem ganhando cada vez mais espaço em território brasileiro, atingindo seu pico na final do campeonato do ano passado. A abertura será na Vila Belmiro, no embate entre Santos e Flamengo, às 20h, com transmissão do SporTV. Além do jogo de estreia, o confronto entre Cruzeiro e Grêmio também será transmitido pelo canal de TV fechada do Grupo Globo.
História do futebol feminino
O porquê da demora para o futebol feminino se popularizar vai muito além do esporte. Décadas atrás, a discriminação contra as mulheres era mais evidente, fato que se comprova com a proibição do voto feminino até 1932, em uma sociedade que a mulher era vista “apenas” para criar uma família.
Nos esportes não era diferente. Em 1941, no Decreto-lei 3199, o artigo 54 constava: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.” Portanto, a prática de esportes por mulheres era proibido por lei no ano de 1941, e, somente quase quarenta anos depois (1979), a lei foi abolida.
Entretanto, o rumo da modalidade no Brasil só foi mudar em 2019, quando a entidade máxima do futebol nacional, a CBF, tornou obrigatório a formação de equipes femininas para os clubes que fossem disputar a Série A do Campeonato Brasileiro Masculino, que possui muito mais investimento e visibilidade.
Apesar de soar drástica, essa medida foi fundamental para o desenvolvimento do futebol feminino, afinal naquele momento 13 dos 20 principais times do Brasil não tinham equipes femininas. Com isso, o investimento no futebol feminino aumentou, assim como a atratividade, fazendo com que emissoras como a Globo e a Band lutassem pelos direitos de transmissão da competição.
Desde então, a categoria vem crescendo exponencialmente nesse período, com diversas marcas se agregando tanto com os clubes quanto com as confederações, fato que pode ser comprovado com o sucesso da final na edição de 2022. Dessa forma, o futebol feminino brasileiro tende a crescer ainda mais nos próximos anos.
Campeonato
A competição é disputada entre 16 clubes e conta com uma primeira fase no formato de pontos corridos com 15 rodadas, que segue para a segunda fase, na qual os oito melhores colocados avançam para as quartas de finais com jogos de ida e volta. Por conta da Copa do Mundo FIFA Feminina – disputada na Nova Zelândia e Austrália – o campeonato sofrerá uma pausa entre julho e agosto, retornando no final de agosto para as semifinais. As finais estão previstas para serem realizadas nos dias 10 e 17 de setembro.
Times
Confira abaixo as 16 equipes que irão disputar o Campeonato Brasileiro Feminino Neoenergia 2023 juntamente com as suas respectivas colocações na competição anterior.
Equipe | Colocação em 2022 |
Athletico Paranaense | Promovido Série A2 |
Atlético Mineiro | 11º colocado |
Avaí/Kindermann | 10º colocado |
Bahía | Promovido Série A2 |
Ceará | Promovido Série A2 |
Corinthians | 1º colocado |
Cruzeiro | 12º colocado |
Ferroviária | 7º colocada |
Flamengo | 6º colocado |
Grêmio | 8º colocado |
Internacional | 2º colocado |
Palmeiras | 3º colocado |
Real Ariquemes | Promovido Série A2 |
Real Brasília | 5º colocado |
Santos | 9º colocado |
São Paulo | 4º colocado |
Edição histórica do Brasileirão Feminino em 2022
A edição do Brasileirão Feminino Neoenergia de 2022 fez história por conta da final entre Internacional e Corinthians. O público de ambas as equipes esteve em peso tanto em Porto Alegre quanto em São Paulo. No jogo de ida, no empate de 1 a 1 no Beira Rio, a torcida colorada colocou 36.330 no estádio, registrando o maior público de uma partida do futebol feminino na América do Sul até então. Porém, a marca foi logo ultrapassada no jogo decisivo da final, que registrou 41.070 torcedores presentes na Neo Química Arena, recorde que se mantém até o momento e gerou uma renda de R$900.981,00, além do dono da casa, o Corinthians, ter se consagrado campeão vencendo por 4 a 1.
Premiações e parcerias
Os valores das premiações da nova edição ainda não foram divulgados, porém é esperado que o montante cresça consideravelmente em relação ao ano passado, que já havia registrado um valor cinco vezes maior em comparação à edição de 2021. Isso representa um grande avanço para a modalidade, que, apesar da premiação ser aproximadamente 3% do Campeonato Brasileiro Masculino (33 milhões de reais), mostra que a categoria vem crescendo significativamente. Até 2021, o campeão desembolsava 200 mil reais, já na última edição, o vice colocado recebeu cerca de 500 mil reais, enquanto o campeão levou 1 milhão de reais para casa, além de outros 5 milhões de reais que foram distribuídos entre os 16 times participantes.
O crescimento dos valores de premiações não foram acontecimentos ao acaso. Pela primeira vez, uma empresa apoia exclusivamente as seleções femininas e competições nacionais de clubes. A Neoenergia – grupo privado do setor Elétrico – fechou uma parceria com a CBF até 2024. Nesse período, a empresa acompanhará a seleção em torneios como a Copa do Mundo deste ano e as Olimpíadas de Paris no ano que vem. O acordo engloba cerca de 575 atletas, viabilizando uma estrutura melhor para desenvolver um ambiente e formação melhor das jogadoras.
Além de suas participações no Brasil, o grupo Iberdrola – controlador da Neoenergia – é a empresa que mais incentiva o futebol feminino na Europa. Cerca de 330 mil atletas são apoiadas entre 32 diferentes federações em diversos países.
Não somente com a CBF, mas as parcerias com os clubes também vem crescendo. O atual campeão da Copa Libertadores, o Palmeiras, fechou recentemente com a Allianz Seguros, além de ter vários diferentes patrocinadores, como Pernambucanas, Betfair, o Cartão de TODOS e Cimed. Outros diversos times também vêm fechando novos contratos para o futebol feminino, clubes como Flamengo, Corinthians, Atlético-MG e Internacional fecharam acordos recentemente.
Na última edição da Libertadores, entre os 16 times que participaram da competição, foram apresentados 98 patrocinadores no decorrer do campeonato, número que quebrou o recorde de marcas estampadas nas camisas.
Por Hassan Zoghbi e Rennan Bianchi