A cada 4 anos, a população assiste ao maior evento esportivo do mundo, a Copa do Mundo da FIFA, e, associado à ela, também aparece o fenômeno nostálgico: as figurinhas do álbum da Copa. Para completar a edição da Copa do Qatar 2022, os fãs terão que desembolsar ao menos R$536, a fim de conseguir todas as 670 figurinhas do álbum – sem contar com as repetidas. Nesta matéria, abordaremos os números por trás do álbum da Copa do Mundo da FIFA.
Início da tradição do álbum da Copa
No Brasil, o hobbie de colecionar figurinhas tem início no século passado, quando empresas estrangeiras das mais diversas áreas associaram seus produtos a álbuns colecionáveis, como uma estratégia de marketing para chamar atenção do público infantil, assim incrementando seus lucros. A notória paixão dos brasileiros pelo futebol fez com que, rapidamente, álbuns esportivos começassem a ser produzidos, tendo como pioneira do ramo a companhia de doces e chocolates “A Americana Ltda”, que idealizou o primeiro álbum da Copa do Mundo, vendido no Brasil durante a Copa de 50. Os cromos eram obtidos como brindes dos doces vendidos pela empresa e logo viraram febre nacional.
Com o passar do tempo, grandes editoras multinacionais se especializaram na venda de álbuns de futebol, como a PANINI, que produz os álbuns da Copa do Mundo desde a década de 70, com a licença oficial da FIFA. Ao todo, 13 edições foram produzidas pela PANINI, sem perder nenhuma das competições realizadas nesse período. O álbum da Copa do Mundo de 2022 será a 14º edição e conta com novidades, como uma página destinada à patrocinadora oficial Coca-Cola, com cromos exclusivos resgatados em compras de produtos da marca, além de uma seção com os vencedores de cada edição e os respectivos times.
As previsões são otimistas para o mercado brasileiro, uma vez que, segundo a PANINI, em pesquisa realizada em 2018, o Brasil é líder no número de consumo de figurinhas. De acordo com o estudo, durante a Copa da Rússia, o consumo no Brasil representou duas vezes o registrado na Alemanha, a segunda colocada. Estima-se que tenham sido produzidos 1,2 bilhões de envelopes e 57 milhões de álbuns. Apenas no Brasil, a produção chegava a 40 milhões de figurinhas por dia, o que totaliza, ao valor da época, 40 milhões de reais por dia. Entretanto, aqueles que quiserem participar da “brincadeira” em 2022 terão que arcar com um aumento expressivo dos preços.
Inflação até no preço das figurinhas
Tradicionalmente produzidos pela PANINI, os álbuns e os “pacotinhos” de figurinhas sofrem reajustes de preço a cada edição da competição. Entretanto, como os pacotes (com 5 cromos cada) estão sendo vendidos por R$ 4 e o álbum por R$12, a editora vem sofrendo diversas críticas em relação ao aumento dos preços. Como base de comparação, o IPCA acumulado entre o ano da última Copa, 2018, e o ano de 2022 é de cerca de 25%, enquanto os preços dos pacotinhos foram reajustados em 100%.
Em comparação aos preços da Copa passada, um consumidor precisaria de R$47,90, em 2018, para comprar 1 álbum e 100 figurinhas, pouco mais da metade do valor que o consumidor precisará desembolsar, em 2022, para fazer o mesmo: R$92,00. Já para completar o álbum, seriam necessários R$ 536, sem contar as repetições. De acordo com estimativas, considerando as repetições e sem trocas de figurinhas, os fãs devem gastar cerca de R$ 4.000.
ANO | Valor/Pacote (em R$) | Valor/Álbum (em R$) |
2002 | 0,5 | 3,9 |
2006 | 0,6 | 3,9 |
2010 | 0,75 | 3,9 |
2014 | 1 | 5,9 |
2018 | 2 | 7,9 |
2022 | 4 | 12 |
Em nota oficial, a PANINI afirmou que os preços são alinhados em toda a América Latina e, atualmente, se encontram na faixa de R$3,5-R$4. A editora ressaltou ainda que as figurinhas são licenciadas pela FIFA, o que aumenta ainda mais o seu valor, e que mantém o canal aberto com os fãs, para manter a tradição de quase 60 anos construída pela marca.
Além dos preços altos, outro fator que dificulta as vendas é a redução no número de bancas desde 2018, principalmente após a pandemia de Covid-19. Para buscar alternativas além das tradicionais bancas de jornal, a editora disponibilizou a venda em mais de 90 empresas varejistas, como Americanas, Amazon e MagaLu. Em uma tentativa estratégica de manter os seus altos números de venda, assim como assegurar a proximidade com os fãs.
NFT’s: as figurinhas do futuro?
A tendência para as próximas gerações parece se resumir em um único processo: a virtualização. Investidores milionários apostam na mudança de antigos costumes do mundo real para o mundo virtual, onde o mercado parece oferecer mais segurança. Já é possível notar que os itens colecionáveis estão envolvidos nesse movimento, tendo em vista que, atualmente, as clássicas figurinhas estão se tornando NFT’s.
As NFT’s, sigla para non-fungible token ou token não fungível em tradução livre, são produtos colecionáveis digitais únicos, que garantem autenticidade exclusiva para o comprador e também funcionam como um ativo virtual similar às criptomoedas. Diferentes clubes e competições nacionais já lançaram seus tokens virtuais para os torcedores.
Na última edição da Copa do Nordeste, os torcedores podiam comprar momentos marcantes do campeonato, como gols, defesas e comemorações únicas. Os clubes brasileiros participam ativamente desse mercado, tendo em vista que a maioria dos times da Série A do Brasileirão já possuem seus respectivos cards para venda. Muito além de itens de coleção, as NFT’s tornam-se um caminho para o investimento financeiro digital, enquanto ajudam financeiramente os times que as desenvolveram. A internet pode realmente estar se tornando o novo “armazém” de figurinhas e as NFT’s o seu material mais novo.
Por Gabriel Katz e Giovana Nicolosi Guerreiro
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