A crise financeira e administrativa do Manchester United

Entenda a crise dos Red Devils sob a gestão da Família Glazer e os impactos da chegada de Sir Jim Ratcliffe ao clube inglês


Por Poli Sports Business

20 de março de 2025

Parceria Editorial

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O Manchester United, um dos clubes mais vitoriosos e reconhecidos do futebol mundial, atravessa um dos períodos mais turbulentos de sua história. Se dentro de campo a equipe não conquista a Premier League desde 2013, fora dele a situação não é menos preocupante. A gestão financeira da família Glazer tem sido amplamente criticada por torcedores e especialistas, especialmente pelo modelo de aquisição do clube e pelo alto endividamento gerado desde então.

A recente entrada de Sir Jim Ratcliffe no comando das operações esportivas do clube foi recebida com esperança por alguns, mas também gerou novas polêmicas devido a medidas de austeridade e cortes severos de custos.

A compra alavancada e a herança da Família Glazer

A família Glazer assumiu o controle do Manchester United em 2005, utilizando um modelo de aquisição alavancada (LBO), no qual a compra do clube foi financiada por meio de um empréstimo no nome da própria instituição. Os Glazers investiram apenas uma fração do capital próprio, enquanto cerca de £660 milhões foram adquiridos via dívida bancária.

Desde então, o clube passou de uma instituição financeiramente saudável para uma das mais endividadas do futebol mundial. Atualmente, a dívida do United gira em torno de £730 milhões, sendo a terceira maior da Premier League, ficando atrás apenas de Tottenham e Everton – clubes que contraíram dívidas para construir estádios, enquanto o United contraiu dívidas apenas para sua aquisição.

Além disso, os juros pagos sobre esse endividamento já ultrapassaram £834 milhões ao longo dos anos. Para agravar ainda mais a situação, os Glazers são os únicos proprietários da Premier League que regularmente retiram dividendos do clube. Entre 2016 e 2022, a família embolsou £156 milhões, aumentando ainda mais a revolta da torcida.

Torcedores protestam contra os donos do Manchester United do lado de fora do Old Trafford

O impacto da gestão Glazer no futebol e na estrutura do clube

A falta de investimento adequado na infraestrutura do clube é um dos principais problemas da gestão Glazer. Enquanto rivais como Manchester City e Liverpool modernizaram seus estádios e centros de treinamento, o United fez reformas mínimas no Old Trafford. O resultado é um estádio ultrapassado, com problemas estruturais evidentes.

No aspecto esportivo, o clube tem gastado grandes quantias em contratações, mas com uma estratégia ineficaz. Desde 2013, após a aposentadoria de Sir Alex Ferguson, o United investiu cerca de £1,275 bilhão em jogadores, tornando-se o clube que mais gastou na Premier League nesse período. No entanto, o retorno esportivo foi decepcionante: nenhuma conquista de Premier League e quatro temporadas fora da Champions League, o que impacta diretamente as receitas do clube.

O Manchester United na Bolsa de Valores

O Manchester United está listado na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) desde 2012, quando os Glazers venderam uma parte das ações para levantar capital sem perder o controle do clube. Em 2023, houve especulações sobre a possibilidade de a família retirar o clube da bolsa, mas até o momento não houve avanços concretos nesse sentido.

A presença do United na NYSE permite que investidores adquiram participações no clube, mas sem poder de decisão significativo. Com a entrada de Jim Ratcliffe, a estrutura de governança do clube pode passar por alterações, mas ainda não está claro se há planos definitivos para a retirada da listagem pública.

A chegada de Sir Jim Ratcliffe

A entrada de Jim Ratcliffe na administração do Manchester United trouxe mudanças significativas na estrutura do clube. Com a aquisição de 25% das ações e o controle das operações esportivas, Ratcliffe prometeu modernizar o time e torná-lo competitivo novamente. Sua gestão, no entanto, já começou gerando insatisfação entre os torcedores devido a algumas de suas primeiras decisões, incluindo cortes de custos drásticos e uma reformulação administrativa.

As medidas de corte e o impacto interno

Desde sua chegada, Ratcliffe implementou medidas de austeridade que geraram forte repercussão. Entre as mudanças promovidas pela nova administração, destacam-se:

  • Demissão de 400 a 500 funcionários, alegando corte de custos.
  • Redução de refeições quentes para funcionários, substituídas por pão, sopa e frutas.
  • Aumento no preço dos ingressos e do estacionamento, incluindo para cadeirantes.
  • Corte no subsídio de transporte para torcedores em finais de copas.
  • Rompimento do vínculo com Sir Alex Ferguson como embaixador do clube, o que gerou grande insatisfação.

Embora essas decisões tenham sido justificadas como parte de um plano para equilibrar as finanças do United, causaram grande insatisfação tanto entre funcionários quanto entre torcedores.

Além disso, a pressão da torcida contra a nova gestão se intensificou, levando Ratcliffe a declarar que pode deixar o clube caso a hostilidade atinja níveis extremos. O empresário acredita que algumas mudanças são essenciais para a reestruturação do United, mas sua permanência dependerá da receptividade às suas ações.

A polêmica do novo estádio

Uma das decisões mais controversas de Ratcliffe foi o anúncio da possível demolição de Old Trafford para a construção de um novo estádio com capacidade para 100 mil pessoas. O projeto, estimado em €2 bilhões, tem o objetivo de modernizar a infraestrutura do clube e aumentar suas receitas. No entanto, muitos torcedores enxergam essa proposta como uma ameaça à identidade e tradição do Manchester United.

Imagem gerada por computador de como o novo estádio do Manchester United poderia parecer.

A ideia de substituir Old Trafford, um dos estádios mais icônicos do futebol mundial, gerou debates acalorados. Parte da torcida considera que a modernização da estrutura atual seria a melhor solução, enquanto outros reconhecem a necessidade de um novo estádio para manter a competitividade financeira do clube.

Caminhos possíveis para a recuperação

Resolver os problemas financeiros e administrativos do Manchester United é um desafio complexo. Algumas possíveis medidas que poderiam ajudar incluem:

  • Melhorar a gestão esportiva: definir uma filosofia de futebol clara e contratar reforços com planejamento a longo prazo.
  • Reduzir a folha salarial: se desfazer de jogadores com altos salários que não entregam retorno esportivo.
  • Gerar receita com vendas de jogadores: Rashford e Antony são ativos que podem render valores importantes para aliviar as contas do clube.
  • Reestruturar o Old Trafford: investir em melhorias na infraestrutura para atrair mais receita de matchday.
  • Voltar para a Champions League: seja vencendo a Europa League ou melhorando seu desempenho na Premier League, o United precisa da receita da principal competição europeia.

O poder midiático e as receitas do United

Apesar da crise financeira, o Manchester United continua sendo uma das marcas mais poderosas do futebol mundial. O clube possui uma base global de torcedores e gera receitas expressivas com direitos de transmissão, patrocínios, venda de produtos licenciados e ingressos.

Em 2024, o United está entre os clubes com maior faturamento do futebol mundial, ficando atrás apenas de Real Madrid, Manchester City e PSG. O clube também lidera em receitas de matchday na Premier League, impulsionado pela capacidade do Old Trafford e pela lealdade de seus torcedores.

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Conclusão

O Manchester United vive um dos momentos mais desafiadores de sua história recente. A gestão da família Glazer deixou uma herança de dívidas e problemas estruturais, enquanto a entrada de Sir Jim Ratcliffe, até agora, tem sido marcada por um ambiente de incerteza.

Para retomar o caminho das glórias, o United precisa de um planejamento esportivo sólido, uma administração financeira mais eficiente e um foco real em reconstruir sua identidade. Caso contrário, o clube corre o risco de prolongar sua “década perdida” e continuar distante do sucesso que sua história exige.