O Brasileirão 2025 marca o início de uma nova era na comercialização dos direitos de transmissão no futebol brasileiro. Sob a vigência da Lei do Mandante e a inédita divisão entre as ligas Libra e Liga Forte União (LFU), os clubes brasileiros passam a negociar os direitos de exibição de suas partidas de forma independente, remodelando por completo as relações comerciais com emissoras, plataformas de streaming e patrocinadores. O impacto é profundo: novos contratos, novas dinâmicas de mercado e uma batalha por audiência e receita que promete transformar o cenário do futebol nacional
Como funciona a Lei do Mandante?
Publicada em setembro de 2021, a Lei 14.205, conhecida como Lei do Mandante, alterou a base da negociação dos direitos de transmissão no Brasil. Antes, tanto o clube mandante quanto o visitante precisavam autorizar qualquer transmissão, restringindo o grau de liberdade de ambas as partes em negociações de direitos. Agora, apenas o clube mandante tem o poder de negociar e até de transmitir diretamente as partidas. Isso abre espaço para novos modelos de negócio e para o fortalecimento de negociações individuais ou em blocos, como foi o caso das duas ligas que surgiram a seguir.
O nascimento de Libra e Liga Forte União
A busca por autonomia e maior rentabilidade, fez com que clubes que concordassem na maneira de vender seus direitos, se organizassem em dois blocos distintos. Em 2022, foi criada a Liga do Futebol Brasileiro (Libra), inicialmente com sete clubes e, após mudanças, consolidada com 12 equipes. No outro lado, em 2023, a fusão da Liga Forte Futebol (LFF) e do Grupo União originou a Liga Forte União (LFU), que hoje reúne 32 clubes. A divisão entre as ligas reflete não apenas interesses comerciais, mas também disputas políticas e estratégias divergentes de gestão e distribuição das receitas no cenário nacional.
Como ficaram divididos os clubes?
A Libra conta com 12 clubes, incluindo grandes forças da Série A como Flamengo, Palmeiras, São Paulo e Atlético-MG. Já a LFU reúne 32 times, com nomes importantes como Corinthians, Botafogo, Fluminense, Internacional e Cruzeiro. Enquanto a Libra concentra mais da elite esportiva e de audiência, a LFU aposta na força do volume de clubes e na diversidade regional, contando também com uma presença significativa nas Séries B e C.

A divisão reflete dois modelos diferentes de pensar o mercado: enquanto a Libra concentra menos clubes, porém com maior valor de mercado agregado, a LFU aposta na força do coletivo, no volume e na presença em diferentes regiões e divisões, garantindo maior alcance e diversificação no relacionamento com torcedores e patrocinadores.
O novo mapa das transmissões
Pela primeira vez, o Brasileirão terá seus direitos negociados em blocos separados. A Globo segue como a principal parceira das duas ligas, mantendo sua presença na TV aberta, fechada (Sportv) e pay-per-view (Premiere).
No entanto, o mercado ganhou novos atores de peso: a Amazon Prime Video terá uma partida exclusiva por rodada, enquanto Record e Cazé TV dividirão os direitos de outro jogo, ampliando as opções de acesso do público, inclusive de forma gratuita no YouTube. O pacote total de direitos superou R$ 2,8 bilhões, com divisão proporcional entre as ligas.

Diferenças estratégicas entre os grupos
As diferenças de visão sobre como comercializar os direitos de transmissão foram justamente o ponto de partida para a divisão entre os clubes brasileiros em dois blocos. Divergências sobre o modelo de distribuição de receitas, a liberdade de negociação e a estratégia de maximizar o valor das transmissões geraram um impasse entre os principais clubes.
A Libra optou por uma abordagem conservadora e fechou um contrato exclusivo com a Globo até 2029, garantindo R$ 1,17 bilhão fixos anuais e 40% da receita líquida do Premiere para seus clubes. A distribuição interna planejada é de 40% igualitariamente, 30% baseados em performance e 30% conforme a audiência, com um repasse adicional de 3% aos clubes que estiverem na Série B.

A LFU preferiu diversificar, vendendo seus direitos a múltiplas plataformas: Globo, por R$ 850 milhões fixos; Amazon, com R$ 265 milhões no primeiro ano; além da Record e Cazé TV, que pagarão respectivamente R$ 200 milhões e R$ 175 milhões. Essa estratégia busca maior exposição e pulverização de receita. Além disso, a LFU garantiu patrocínios significativos, como o contrato de R$ 87 milhões anuais com a Betano.

Acordo na Série B e os primeiros passos para uma liga única
Apesar da divisão, um passo relevante foi dado em 2025: no início do mês de Março, as duas ligas chegaram a um acordo para a venda conjunta dos direitos da Série B. O movimento foi visto como sinal de possível reaproximação e indica a intenção de, futuramente, unificar o futebol brasileiro sob uma liga única, a exemplo do que ocorre em grandes ligas europeias. Ainda que embrionária, essa colaboração representa um alívio e um ganho de força para a Série B, que passará a ter um contrato unificado e potencialmente mais rentável.
O desafio da unificação e o exemplo das grandes ligas
A fragmentação dos direitos de transmissão no Brasil traz consigo uma oportunidade de inovação, mas também um desafio importante: garantir equilíbrio e sustentabilidade para o futebol nacional. Em mercados maduros, como a Inglaterra e a Espanha, a unificação das negociações se mostrou essencial para manter a competitividade das ligas.
Na Premier League, por exemplo, os direitos são vendidos de forma coletiva desde os anos 90, com um modelo que distribui as receitas entre os clubes de forma equilibrada, combinando critérios de divisão igualitária, performance esportiva e audiência. Isso permitiu que mesmo equipes de menor expressão financeira conseguissem se estruturar e disputar de forma mais competitiva contra gigantes como Manchester United, Liverpool ou Manchester City.
No Brasil, uma futura unificação poderia trazer benefícios similares, promovendo uma divisão de receitas mais justa e sustentável, beneficiando tanto clubes regionais, com menor apelo de audiência, quanto os grandes atratores de mídia e patrocinadores. O fortalecimento coletivo tende a valorizar ainda mais o produto “Brasileirão” no mercado global e a gerar impactos positivos de longo prazo para a indústria do futebol nacional.
+ Leia também:
– SIR #28: Brasileirão 2025 – números, recordes e curiosidades da 70ª edição do torneio
– O impacto dos estaduais no calendário do futebol brasileiro
Conclusão
O Brasileirão 2025 inaugura um novo capítulo na história da mídia esportiva nacional. A rivalidade entre Libra e LFU gera incertezas, mas também cria oportunidades para clubes, torcedores e investidores. A diversidade de plataformas e modelos de negócio promete aumentar a oferta de conteúdo e fortalecer o mercado. Resta saber se a experiência prática trará a desejada valorização do produto futebol ou se forçará, mais cedo ou mais tarde, uma reunificação.