Conheça o universo bilionário dos times da NFL no kickoff da nova temporada

Entre as top-25 franquias esportivas de maior valor, times da NFL aparecem 11 vezes, e um deles ocupa a primeira colocação do ranking.


Por Bruno A. Matos

10 de setembro de 2021

A National Football League é a liga mais valiosa do mundo. Entre as top-25 franquias esportivas de maior valor, times da NFL aparecem 11 vezes, e um deles ocupa a primeira colocação do ranking. Entre os top-50 atletas mais bem pagos, 18 são jogadores de futebol americano. A NFL é a liga que mais tem atletas na lista, com mais do dobro de aparições do que todas as ligas de futebol do mundo combinadas.

Nesta quinta-feira, tivemos o confronto que marcou o início da temporada 2021-22. O Dallas Cowboys, que ocupa a primeira colocação do ranking de franquias mais valiosas, foi derrotadopelo Tampa Bay Buccaneers, atuais campeões e equipe de Tom Brady, 9˚ atleta mais bem pago do mundo.

Para entender como a NFL se tornou a principal referência mundial para a indústria esportiva, navegue pelo conteúdo:

Um pouco de história…

O futebol americano nasceu durante o fim do século XIX como um esporte de colegiado. A profissionalização começou nas primeiras décadas do século seguinte, até 1920, quando foi organizado um rascunho do que hoje conhecemos como National Football League. Por 13 anos a liga flutuou entre 8 e 22 equipes, com mais falhas do que sucessos, até que em 1933 foi reorganizada para o modelo que vemos hoje, com um número fixo de franquias localizadas em grandes cidades.

No entanto, não foi em 1933 que tudo mudou e a NFL se tornou no que é hoje. Desde o início a liga tinha um problema de imagem. Futebol americano profissional não trazia o espetáculo de sua versão de colegiado, e os atletas eram vistos como completamente brutais e sanguinários.

De qualquer forma, aos poucos o esporte foi ganhando popularidade até que, em dezembro de 1958, 30 milhões de norte-americanos assistiram o Baltimore Colts derrotar o New York Giants em uma decisão de campeonato com prorrogação. Foi então que os times da NFL entenderam a importância da TV.

Em 1962, a liga assinou o seu primeiro contrato de televisão, por pouco mais de U$9 milhões para dois anos. O que marcou o acordo, porém, não foi o valor do contrato. Uma das mais importantes estratégias de negócio foi adotada naquele momento: Pete Rozelle — comissário da liga naquela época —  implementou a divisão igualitária de receitas entre todas as franquias da liga. Com isso, a NFL garantia a estabilidade financeira das equipes e mantinha o seu equilíbrio competitivo.

Se pularmos para os dias de hoje, mais de 50% da receita da National Football League ainda vem de acordos de televisão. Inclusive, foi assinado recentemente um pacote de mais de 100 bilhões de dólares, que entrará em vigência a partir de 2023.

Divisão de receitas na NFL: como funciona?

Receitas da NFL são divididas em três potes, distribuídas em diferentes proporções na equação geral. Cada um desses é originalmente conhecido como: League Media, NFL Ventures and Postseason e Local Revenue. Além dos três grupos, existe o crédito que a liga recebe para capital alocado em planos de saúde para jogadores aposentados, caridades e “stadium credits”.

League Media

É o maior dos potes. Essa categoria consiste majoritariamente de grandes fluxos de receita provindos de contratos bilionários com televisão e rádio. Quaisquer canais de transmissão entram nesse grupo. A distribuição desse montante é de 55% para os jogadores e 45% para os donos.

NFL Ventures and Postseason

Esse é o pote onde entram as receitas advindas das diversas filiais de mídia e marketing da NFL. Isso inclui a NFL Network, Red Zone Channel, NFL.com, NFL Films, NFL Properties, e NFL Digital Game Pass. Além disso, entram todas as receitas geradas pelos jogos da “postseason” (pós-temporada) — excluindo a parte contratada que entra em League Media. Um detalhe importante dessa categoria é que as receitas do pacote de TV para jogos do Thursday Night Football, são contabilizadas aqui, e não na sessão anterior. A divisão também é diferente, com os jogadores recebendo 45% e os donos 55%.

Local Revenues

Recai sobre esse pote toda a receita que não é contabilizado pelos outros dois. Em geral, esse é o dinheiro que os times da NFL arrecadam e negociam individualmente. Aqui entram negociações de jogos de pré-temporada ou vendas de ingressos e concessões dos jogos em casa. A distribuição do montante é de 40% para os atletas e 60% para o dono. Essa é uma categorias que gera certa reclamação por parte de alguns dos executivos, uma vez que franquias em mercados maiores geram mais receita local do que as em mercados menores.

Joint Contribution Credit

Essa é a categoria “adicional”, que trata do crédito para pagamento de benefícios de jogadores e ex-jogadores. Esse fundo nasceu em 2012 com 55 milhões de dólares, crescendo 5% a cada ano. Uma parcela de 47,5% desse montante é utilizado para cobrir os custos com atletas (Player Costs).

O que vai para os jogadores?

As receitas da NFL são divididas entre os atletas e os donos (ver Divisão de receitas na NFL: como funciona?). A parcela direcionada aos jogadores é chamada de Player Costs (custos com jogadores), e uma porção dessa parcela compõe o Salary Cap (teto salarial) da liga.

Player Costs

Esse é o valor que será pago aos atletas. O cálculo dos custos com jogadores é bastante simples. É preciso somar as porcentagens destinadas aos atletas em cada categoria de receitas e subtrair a parcela do fundo de crédito destinada à esses custos. Temos:

Player Costs = 

(55% x League Media)

+ (45% x NFL Ventures e Postseason)

+ (40% x Local Revenues)

– (47,5% x Joint Contribution Credit)

A “única complicação” da contabilização dos custos com atletas está fora do cálculo. A NFL tem uma proteção prevista no CBA (Collective Bargaining Agreement) que impede a dominância de uma das categorias de receita. Nem todos sabem disso, mas existem níveis mínimos e máximos para o Player Costs. Até 2020 o teto era de 48,5%. Isso protege a liga da possibilidade de a League Media crescer a ponto de garantir sempre mais de 50% da receita total para os jogadores. Já o mínimo, garante que os jogadores recebam pelo menos 47% do total, os protegendo do cenário em que as propriedades de mídia da NFL se tornam uma força dominante nos cálculos.

Por fim, pode haver uma dedução sobre o valor final do Player Costs de até 1,5% da receita total, para “stadium credit”.

Salary Cap

Não, o Salary Cap e Player Costs não são a mesma coisa, diferentemente da crença popular. O teto salarial da NFL é uma porção do valor pago aos jogadores, e o restante é a parte destinada aos benefícios. O Cap pode ser resumido em custos com a temporada regular, e todos os outros gastos associados às equipes são os benefícios.

Os benefícios podem causar certa confusão, pois muitos desses pagamentos são relacionados a “jogar futebol americano”. Incentivos por performance, por exemplo, entram nessa categoria.

De qualquer forma, para chegar ao Salary Cap não ajustado, basta subtrair os benefícios projetados para o ano, do valor total de Player Costs. Para chegar no valor por equipe, é só dividir pelos 32 times da NFL.

Ainda é preciso chegar ao valor real, o Cap ajustado, que indica quanto cada uma das franquias podem, de fato, gastar em um dado ano em salários. Alguns times terão um ajuste negativo, e outras terão o ajuste positivo — na maioria das vezes é o segundo caso.

Entre os fatores que levam aos ajustes, estão: o Cap Carryover, todo espaço inutilizado do teto salarial é “arrastado” para o ano seguinte; Ajustes de Incentivos, a diferença entre os pagamentos de incentivos projetados e o real valor pago é ajustado na temporada seguinte; Ajustes de Opções, referentes aos bônus de contratos que não foram pagos, e esses valores também entram no Salary Cap do próximo ano; Penalidades, que podem ser impostas pela NFL no caso de ultrapassagens ou tentativas de contornar o teto salarial. 

Existem inúmeros nuances dentro de cada um desses tipos de ajuste, além de outros fatores que podem levar à correções. Esse sistema de teto salarial da é um dos mais complexos de todas as ligas esportivas, e existem altos cargos executivos dentro dos times da NFL, voltados especificamente para o Salary Cap.

Quanto vale uma franquia da NFL?

A estrutura financeira da NFL visa a estabilidade de suas franquias e, portanto, da liga como um todo. Ano após ano, a liga segue no topo do ranking para ligas mais valiosas do mundo. E como é de se esperar, a liga de maior valor carrega muitas das equipes mais valorizadas.

Como vimos anteriormente, o Dallas Cowboys está no topo do ranking mundial de franquias esportivas feito pela Forbes em 2021. E muitas outras aparecem no top-25. O valor de uma franquia média da NFL é de incríveis 3,48 bilhões de dólares, com uma receita de mais de 380 milhões. Esse valor apareceria em 20˚ lugar no ranking da Forbes, a frente de times como o Boston Red Sox, de baseball; Chicago Bulls, de basquete; e Chelsea, de futebol. 

NFL: Equipes

EquipeValuation Receita
Dallas CowboysUS$ 6,5 bilhõesUS$ 800 milhões
New England PatriotsUS$ 5 bilhões US$ 478 milhões
New York GiantsUS$ 4,85 bilhõesUS$ 350 milhões  
Los Angeles RamsUS$ 4,80 bilhões US$ 422 milhões
Washington Football TeamUS$ 4,20 bilhões US$ 388 milhões  
San Francisco 49ersUS$ 4,17 bilhões US$ 374 milhões
Chicago BearsUS$ 4,07 bilhões US$ 370 milhões  
New York JetsUS$ 4,05 bilhões US$ 345 milhões
Philadelphia EaglesUS$ 3,80 bilhões US$ 371 milhões
10º Denver BroncosUS$ 3,75 bilhões US$ 368 milhões
11º Houston TexansUS$ 3,70 bilhões US$ 397 milhões
12º Seattle SeahawksUS$ 3,50 bilhões US$ 362 milhões
13º Green Bay PackersUS$ 3,47 bilhões US$ 371 milhões
14º Pittsburgh SteelersUS$ 3,43 bilhões US$ 364 milhões
15º Miami DolphinsUS$ 3,42 bilhões US$ 372 milhões
16º Las Vegas RaidersUS$ 3,41 bilhões US$ 389 milhões
17º Baltimore RavensUS$ 3,40 bilhões US$ 352 milhões
18º Minnesota VikingsUS$ 3,35 bilhões US$ 365 milhões
19º Indianapolis ColtsUS$ 3,25 bilhões US$ 350 milhões
20º Atlanta FalconsUS$ 3,20 bilhões US$ 353 milhões
21º Tampa Bay BuccaneersUS$ 2,94 bilhões US$ 364 milhões
22º Kansas City ChiefsUS$ 2,93 bilhões US$ 364 milhões
23º Los Angeles ChargersUS$ 2,92 bilhões US$ 339 milhões
24º Carolina PanthersUS$ 2,91 bilhões US$ 351 milhões
25º New Orleans SaintsUS$ 2,82 bilhões US$ 378 milhões
26º Jacksonville JaguarsUS$ 2,80 bilhões US$ 361 milhões
27º Arizona CardinalsUS$ 2,65 bilhões US$ 353 milhões
28º Tennessee TitansUS$ 2,62 bilhões US$ 354 milhões
29º Cleveland BrownsUS$ 2,60 bilhões US$ 375 milhões
30º Detroit LionsUS$ 2,40 bilhões US$ 330 milhões
31º Cincinnati BengalsUS$ 2,27 bilhões US$ 348 milhões
32º Buffalo BillsUS$ 2,27 bilhões US$ 340 milhões

Fonte: Fonte: Forbes – Sports Money: 2021 NFL Valuations

A influência sobre outras ligas

O modelo de negócios da NFL serviu de inspiração para outras grandes ligas. É fácil dizer que a NBA ou a MLS foram construídas com base no modelo americano, liderado pela National Football League e sua estrutura financeira de sucesso. Ambas seguem a mesma linha, com divisão de receitas e Salary Cap. No entanto, ambas também são “filhas norte-americanas”.

No início dos anos 90, do outro lado do Oceano Atlântico, na Europa, umas das grandes forças do futebol mundial — se não a maior do esporte — voltava os seus olhos para os Estados Unidos. A Premier League, fundada em 1992, viu a obsessão “secreta” de alguns de seus donos pelos times da NFL. Dein e Scholar, donos do Arsenal e Tottenham, respectivamente, são dois que sofreram influência direta. 

O primeiro, casado com uma norte-americana, foi apresentado em 1972 para o mundo da NFL. Por coincidência, em Miami, na temporada em que os Dolphins se tornaram o primeiro e único time até os dias de hoje a vencerem uma temporada invictos. Mas não foi isso que Dein se encantou. O que o marcou foram as gigantescas telas, comidas gourmet e líderes de torcida no estádio. Um evento esportivo de alto nível.

Hall Of Famer Larry Csonka jogando pelo Miami Dolphins em 1972

O segundo, foi aos Estados Unidos em busca de ideias para melhorar as operações do Tottenham, que estava ficando para trás na Inglaterra. O clube foi um dos últimos (entre os grandes do país) a fechar um acordo de patrocínio em suas camisas. Ao contrário de Dein, que conheceu a NFL por fora, como espectador, Irving tinha um contato de dentro: O.J. Simpson — uma lenda do futebol americano. E foi por esse contato que conheceu Pete Rozelle, comissário da NFL naquela época. A impressão do inglês foi, nas suas palavras, de que “dava para ver o futuro”.

Ainda tivemos o Manchester United explodindo comercialmente e transformando o seu merchandising, também inspirados no modelo da liga de futebol americano. O que, consequentemente, levou à dominância dentro de campo do clube. Suportados pelo poderio financeiro, os Devils levaram 7 dos primeiros 10 títulos de Premier League.

O expertise dos times da NFL em entretenimento, branding, e governança era, e ainda é, incomparável. Por isso, a liga serviu como base para a Premier League e muitas outras.