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O comportamento comum de todo torcedor diante de uma pesquisa de opinião é buscar quantos, além dele, torcem para o mesmo time. Enquanto um dos dados mais importantes para quem trabalha com futebol está na mesma tabela, relegada a um cantinho secundário: a quantidade de pessoas que diz não torcer para ninguém.
Na pesquisa O Globo/Ipsos-Ipec, divulgada pelo jornal ao longo desta semana, o perfil desse cidadão foi traçado. Ou melhor, dessa cidadã. São as mulheres que se mantêm mais distantes dos clubes, a ponto de não se identificarem com ninguém.
Antes do perfil, o dado bruto, e talvez alarmante. O estudo realizado em 2025 quantificou em 32,1% a quantidade de pessoas que responde “nenhum” para a pergunta “para quem você torce?”. Outro 1,6% não sabe ou não quis responder.
O número é maior do que em 2022, quando, com a mesma metodologia, os institutos chegaram a 24,4% de pessoas sem time e 2,5% sem resposta. Em um intervalo de três anos, algo aconteceu para desmotivar gente que havia sinalizado algum time.
A resposta talvez esteja entre times paulistas. Corinthians, São Paulo e Palmeiras foram os três com as maiores quedas registradas, na comparação das pesquisas de 2022 e 2025. A soma foi de menos 6,9 pontos percentuais. Em outras palavras: pode ser que corintianos, são-paulinos e palmeirenses tenham se desengajado a ponto de, entre uma pesquisa e outra, deixarem de responder o nome do time.
Então, vem o perfil da “torcida para ninguém” — a maior do Brasil, diga-se de passagem. Ela é feminina, de meia idade e pobre. Gente que diz não ter tempo para futebol, como algumas personagens entrevistadas por repórteres do jornal carioca.
Quem é
Responder o nome de um time na pesquisa não significa, necessariamente, que o sujeito seja um torcedor contínuo. Aqui a conversa é antropológica, e como tal a definição adequada para ele veio de um antropólogo, Edison Gastaldo, professor do Centro de Estudos de Pessoal do Forte Duque de Caxias, em entrevista ao Globo.
— A maioria que diz torcer, mal sabe o nome do goleiro. É um pertencimento nominal. O pai, o tio ou algum homem da família deu a primeira camisa, e isso bastou. A interação lúdica do futebol é um jogo que não exige ingresso, só o “tíquete” simbólico de ter um time. Quem não tem, fica de fora da conversa.
Colocando em palavras de negócios, é como se nominar um clube na pesquisa fosse a primeira etapa no funil de “torcedorismo”. Primeiro, a pessoa precisa ter alguma conexão para se identificar com aquele time. Depois, haverá a régua de fanatismo e engajamento que se intensificará de acordo com o sentimento e o consumo dela.
É nesse sentido que o estudo se torna útil para quem está no mercado. Ao perfilar a não-torcedora de futebol, surge uma série de questões. Sobre o passado, por que essa mulher não se identificou nem um pouco? Sobre o futuro, o que se pode fazer?
A pesquisa O Globo/Ipsos-Ipec foi realizada entre 5 e 9 de junho de 2025. Foram entrevistadas 2000 pessoas com 16 anos ou mais em 132 municípios brasileiros. Com nível de confiança de 95%, a margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.