Milan volta a ser campeão italiano após onze anos de jejum

Relembre a última temporada vitoriosa do Milan (2010/2011), que conquistou o 19º título nacional e encerrou o jejum de mais uma década


Por Guilherme Calafate

14 de maio de 2022

Milan volta a ser campeão italiano após onze anos de jejum Milan volta a ser campeão italiano após onze anos de jejum

Após mais de uma década sem levantar a taça do campeonato italiano, o Milan finalmente acabou com a seca de títulos no último domingo (22). Com uma vitória expressiva de 3 a 0 sobre o Sassuolo fora de casa, o Milan voltou a ser campeão italiano após 11 temporadas. A vitória do Rossonero garantiu a primeira colocação, com 86 pontos, contra 84 da sua maior rival Inter de Milão, que venceu a partida contra a Sampdoria e aguardava por um tropeço para manter a seca de títulos do rival.

Comandada pelo técnico Stefano Pioli, que venceu sua primeira liga nacional na carreira, a equipe italiana voltou ao segundo lugar do ranking de maiores campeões do campeonato nacional ao lado da rival Inter, com 19 troféus. Apenas a Juventus, com 36, tem mais. Confira abaixo a lista completa com os maiores campeões da Itália.

  1. Juventus — 36 títulos
  2. Milan e Inter de Milão — 19 títulos
  3. Genoa — 9 títulos
  4. Pro Vercelli, Bologna e Torino — 7 títulos
  5. Roma — 3 títulos
  6. Fiorentina, Napoli e Lazio — 2 títulos

Última temporada vitoriosa  

Milan pode se sagrar campeão italiano após 11 anos de jejum
Foto: AC Milan

Há 11 anos atrás, o Milan comemorava o título do campeonato italiano pela última vez. Na temporada de 2010/2011, o Rossonero não fez uma campanha espetacular, mas se sagrou campeão com três jogos de antecipação. Entretanto, o clube já não estava em seus melhores momentos, sendo eliminado nas oitavas de final da Liga dos Campeões pelo Tottenham Hotspur e nas semifinais da Copa da Itália pelo Palermo. 

Curiosamente, algumas semelhanças podem ser identificadas entre a última temporada vitoriosa e a atual. Além do segundo colocado campeonato ser novamente a grande rival Inter de Milão, o 18º título do campeonato italiano conquistado pelo Milan quebrou um jejum que durava desde a temporada 2003/2004. Após 7 anos na seca, assistindo à rival Inter faturar cinco títulos dos sete disputados, o Rossonero reencontrou a glória nacional na primeira temporada sob o comando do treinador Massimiliano Allegri.  

Contudo, também existem diferenças notáveis entre o Milan de 2010/2011 e o de 2021/2022. Desde as características dos elencos até os modelos de gestão, o Rossonero passou por profundas transformações durante esses 11 anos, enfrentando momentos antes inimagináveis para um dos clubes mais tradicionais da Europa. 

Comparação entre os elencos 

Entre as diferenças mais perceptíveis entre os elencos das duas temporadas estão a presença de medalhões e jogadores consagrados mundialmente e a ousadia do Milan na contratação de atletas. Apesar de já possuir grandes nomes em seu elenco para a temporada 2010/2011, como Pirlo, Seedorf, Ronaldinho Gaúcho, Inzaghi, Gattuso e Nesta, o Rossonero fez contratações históricas para a temporada: Zlatan Ibrahimović, que chegou por empréstimo gratuito do Barcelona com opção de compra no final da temporada, e Robinho, que foi comprado junto ao Manchester City pelo valor de 18 milhões de euros. O Milan também contratou outros jogadores de renome, como Kevin-Prince Boateng e Mark van Bommel.  

Na atual temporada, o Milan possui poucos nomes já consagrados no futebol, investindo mais em revelações e jogadores menos badalados. Entre os principais nomes do elenco atual estão o próprio Ibrahimović, que retornou ao clube em 2020, o destaque do time e disputadíssimo atacante português Rafael Leão, o meio campista marfinense Franck Kessié, que irá para o Barcelona no final da temporada, o volante italiano Sandro Tonali e o lateral esquerdo francês Theo Hernández, desejado pelo seu antigo clube, o Real Madrid. Confira abaixo uma comparação entre as escalações mais utilizadas nas temporadas de 2010/2011 e de 2021/2022.  

Fator Ibrahimović 

Uma das maiores semelhanças entre os elencos das duas temporadas é a presença do astro sueco Zlatan Ibrahimović. Na temporada de 2010/2011, o atacante chegou com status de maior contratação da janela de transferências, apesar de estar em baixa no Barcelona. Como de costume, ele não decepcionou, se tornando o artilheiro disparado do time no ano, com 22 gols, ajudando diretamente na conquista do Scudetto e começando a escrever seu nome na história do clube, como um dos seus maiores ídolos.  

Foto: Imago/Onefootball

A importância de Ibra para o Milan é tamanha que, mesmo em meio a rumores de aposentadoria e com 38 anos de idade, o retorno do astro em 2020 colocou o clube em outro patamar. Além dos 33 gols marcados na atual passagem, o sueco também se tornou um verdadeiro líder para a equipe, demonstrando seu ímpeto e experiência dentro e fora de campo.

Ganhar o Scudetto mais uma vez em sua carreira pode ser a despedida perfeita para um dos maiores jogadores da história. Segundo a emissora italiana Sky Sports, a condição física de Ibrahimović pode levá-lo à aposentadoria. Por conta de problemas no joelho, o atacante de 41 anos tem atividades muito limitadas tanto nos treinos quanto nos jogos. De acordo com a reportagem, Zlatan treina separado do restante do elenco entre terça-feira e sexta-feira, fazendo um trabalho diferenciado para não desgastar o joelho. Ele só treina com o elenco aos sábados, para poder entregar alguns minutos de jogo no domingo. 

Brasileiros em alta 

Milan pode se sagrar campeão italiano após 11 anos de jejum
Foto: AFP

Um fator de destaque na temporada de 2010/2011 do Milan é a participação crucial de jogadores brasileiros na conquista do campeonato italiano. Os brasileiros Thiago Silva, Robinho e Alexandre Pato foram muito aclamados pela torcida e pela mídia na conquista do seu primeiro título pelo clube Rossonero. O zagueiro foi quem mais atuou entre os brasileiros, com 30 jogos na temporada, e liderou um sistema defensivo sólido que sofreu apenas sete gols em todo o segundo turno do campeonato.  

Mesmo enfrentando uma lesão muscular que o perseguiu durante a temporada e o deixou de fora do time titular com frequência, Alexandre Pato terminou a competição como um dos artilheiros do time e foi o nome da goleada sobre a rival Inter de Milão no segundo turno. Um dos jogadores brasileiros mais badalados à época, Robinho foi titular em 24 dos 32 jogos que disputou, anotando 14 gols que o deixaram empatado na artilharia do time no campeonato italiano, ao lado de Pato e Ibrahimović.  

Já o outro brasileiro presente no elenco Rossonero para a temporada, Ronaldinho Gaúcho, se transferiu para o Flamengo em janeiro de 2011, atuando apenas 11 vezes na Série A e anotando três assistências para gol. 

Desvalorização do Milan diante do mercado e patrocinadores  

A temporada de 2010/2011 também marcou o início da parceria entre o Milan e a principal companhia aérea dos Emirados Árabes Unidos, a Fly Emirates. Após quatro temporadas com a empresa de apostas esportivas Bwin, o clube italiano fechou um acordo para a Fly Emirates se tornar a patrocinadora master da equipe por 10 anos, no valor de 14 milhões de euros anuais.  

Foto: AC Milan – Puma Football

Porém, a má fase e a seca de títulos do clube no restante da década 2010-2020 resultou em uma desvalorização do Milan no mercado, que já não é mais visto pelo mercado como o gigante de outrora. Após ser preterido pela Adidas, que propôs antecipadamente a rescisão de contrato em 2018, a renovação com a patrocinadora master, em 2020, gerou mais um desgaste financeiro para a equipe. O novo acordo foi fechado em 10 milhões de euros, o que representa um valor 29% menor do que no contrato anterior.  

À título de comparação, a Fly Emirates fechou um contrato de patrocínio master com o clube francês Lyon, também em 2020, por um valor de 20 milhões de euros por temporada, o dobro do recebido pelo clube italiano. 

Mudanças constantes de gestão 

Desde 2017, o Milan passou por três trocas de comando nos bastidores e pode estar próximo de uma quarta mudança. O Milan foi controlado durante 31 anos pelo ex-primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi, conquistando 29 títulos e suas maiores glórias durante este período. Porém, a “Era Berlusconi” foi encerrada em 2017, quando 99,93% do clube foi vendido ao consórcio chinês Rossoneri Sport Investment Lux, comandado por Li Yonghong, que assumiu a presidência milanista. No entanto, logo no ano seguinte, o chinês passou o controle ao grupo americano Elliott Management, com o qual possuía uma dívida milionária. 

Foto: Divulgação

Os novos proprietários do clube nomearam o empresário italiano Paolo Scaroni como presidente. Scaroni continua no cargo até o momento, mas, mesmo com o título italiano bem próximo de se concretizar, a Elliot está aberta a negociações de venda, após assumir o clube como pagamento de uma dívida e conseguir valorizar a imagem rossonera após um processo de reestruturação. 

Atualmente, a Investcorp do Bahrein, fundo de investimentos que também tem participação em marcas como Gucci e Riva, é a principal candidata para assumir o clube. A negociação foi confirmada pela Embaixada do Bahrein no Reino Unido, que revelou uma oferta de 1,1 bilhão de dólares (cerca de R$ 5,1) feita pelo fundo para comprar o tradicional clube italiano. A empresa, domiciliada no Bahrein e com escritórios em diversos países, é presidida pelo empresário Mohammed Alardhi, de Omã, e administra mais de 42 bilhões de dólares em ativos.  

Entretanto, uma oferta de 1,1 bilhão de euros da empresa de investimentos norte-americana RedBird Capital causou um atraso indesejado. Com o atraso da Elliott Management para concretizar o acordo já apalavrado com a Investcorp, está claro que a empresa também está avaliando a oferta da RedBird. De qualquer forma, tudo indica que o Milan certamente terá novos proprietários na próxima temporada. 

De acordo com a imprensa italiana, os candidatos a assumir o clube têm grandes ambições e planos de seguir a mesma linha de trabalho feita pela Elliot até o momento, inclusive com a manutenção de alguns dirigentes, visando a colocar o Milan novamente como protagonista tanto nas competições nacionais quanto na Liga dos Campeões. 

Volta ao protagonismo 

Após quebrar o jejum de títulos e voltar a ser campeão nacional, o segundo maior vencedor da Liga dos Campeões da história – são 7 taças, contra 13 do Real Madrid – pode estar diante de uma oportunidade de se reerguer como gigante não só do futebol italiano, mas do futebol mundial. Com a continuidade do projeto ambicioso de retomar o protagonismo que o Milan conseguiu na década de 90 e no início dos anos 2000, a nova diretoria deve investir em grandes reforços para as próximas temporadas. 

Apesar da negociação do clube ainda não ter sido concluída, algumas movimentações já estão sendo noticiadas pela imprensa italiana. O site Calciomercato, especializado no mercado de transferências do futebol, noticiou que o clube está próximo de contratar o francês Christopher Nkunku, de 24 anos. O jogador do RB Leipzig, da Alemanha, vem chamando a atenção de diversos clubes por conta de seu rendimento ofensivo. Na atual temporada já são 34 gols e 15 assistências em 50 jogos. 

De acordo com o jornal Gazzetta dello Sport, a Investcorp está tão confiante em fechar a compra do gigante italiano, que já separou US$ 300 milhões (R$ 1,41 bilhão) para a contratação de reforços de peso na próxima janela. Entre os nomes ventilados, estão o do atacante franco-marfinense Sébastien Haller, de 27 anos, do Ajax, o do atacante italiano Nicolò Zaniolo, de 22 anos, da rival Roma, e o do meio-campista francês Aurélien Tchouaméni, de 22 anos, do Monaco.