NFL: gestão das equipes na National Football League

Relembre a história da NFL e entenda a organização da liga de futebol americano, suas franquias e a divisão de receita


Por Insper Sports Business

16 de junho de 2022

Parceria Editorial

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Gestão das equipes na National Football League (NFL) Gestão das equipes na National Football League (NFL)

A National Football League (NFL) é a liga de futebol americano dos EUA, formada por 32 times, divididas em duas conferências: American Football Conference (AFC) e a National Football Conference (NFC). Na temporada regular, cada time joga 16 vezes e folga uma semana, depois da temporada regular, seis times de cada conferência são classificados – os quatro campeões da divisão (norte, sul, leste e oeste) e dois times da repescagem. Os times de cada conferência se enfrentam para descobrir quem é o campeão de conferência, em seguida, os vencedores da AFC e da NFC se enfrentam no Super Bowl, a grande final da NFL.

História da NFL

Em um primeiro momento, existiam duas ligas diferentes: a National Football League e a American Football League, que surgiu depois. Após a sua criação, a segunda liga foi bem sucedida e começou a rivalizar com a NFL, disputando por direitos de jogadores, escolhas de drafts universitários e firmando contratos lucrativos de televisão. Porém, em determinado momento, essa rivalidade começou a gerar prejuízos para as ligas, muito por conta dos salários inflados dos atletas. Diante disso, ambas as ligas começaram a negociar uma fusão, que foi assinada em 8 de junho de 1966, e uma competição única passou a ser organizada da forma que é hoje.

A fusão das ligas foi extremamente benéfica e alavancou a exposição da marca ao redor do globo, se tornando a liga esportiva mais popular na América do Norte. No começo da década de 1960, a audiência era de três milhões de pessoas, enquanto o Super Bowl de 1988 chegou a atrair um público de 400 milhões de pessoas. Em 1963, a liga criou a NFL Properties, que lida com as questões de licenciamento e merchandising, que, com o tempo, se tornou um dos nichos mais lucrativos para a liga, com lucros estimados em bilhões de dólares.

Hoje, a NFL é considerada uma associação comercial financiada por 32 times. Contudo, até 2015, a liga era uma associação sem fins lucrativos. A seção 501(c)(6) da Lei de Receitas dos EUA dá isenção tributária federal para “ligas de negócios, câmaras de comércio, conselhos imobiliárias, conselhos de negócios ou ligas profissionais de futebol americano (administrando ou não um fundo de pensão para os seus jogadores), não organizadas para obter lucro ou que não tenha parte da sua receita para beneficiar acionistas privados ou indivíduos”. Em contrapartida, cada time está sujeito a pagar impostos estaduais e federais, com exceção do Green Bay Packers, que é a única instituição que não tem fim lucrativo. Em 2015, após muitas críticas do público, a NFL abriu mão da isenção tributária.

Organização da NFL

 A liga é organizada em três poderes definidos: o comissário, o secretário e o tesoureiro, sendo que cada conferência tem o seu presidente e oficial executivo. O comissário é o cargo mais forte da liga e deve ser eleito por 18 votos dos donos da liga, ou por dois terços. Em comparação, o presidente das conferências é eleito por voto de ¾ ou dez membros da conferências. O comissário eleito escolhe o secretário e o tesoureiro e tem total autonomia para contratar empregados, negociar e estender os contratos de televisão, administrar questões disciplinares, caso haja alguma conduta prejudicial ao bem-estar da liga.

De acordo com Richard Wolff, a NFL redistribui igualmente as suas receitas para todos os times da liga, o que pode ser considerado uma exceção, tendo em vista que a maioria das ligas ao redor do mundo que redistribuem seus ganhos, apresentam alguma discrepância na distribuição. A NFL adota essa conduta para que nenhum clube domine a liga financeiramente, evitando discrepâncias excessivas de nível técnico e uma influência de maneira descabida da entidade.

Como explicado anteriormente, a NFL é formada por 32 equipes, com duas conferências (NFC e AFC), com 16 times em cada uma, sendo cada conferência dividida em quatro conferências menores, com quatro times em cada uma. Cada clube na NFL é considerado uma franquia (no sentido de empresa). Entre as 25 franquias esportivas de maior valor do mundo, times da NFL aparecem 11 vezes, sendo o Dallas Cowboys o primeiro da lista. Entre os top-50 atletas mais bem pagos do planeta, estão 18 jogadores de futebol americano da NFL, o que torna a liga a que mais tem atletas na lista, com o dobro de aparições do que todas as ligas de futebol juntas.

Para entender melhor como funcionam as receitas da NFL e como as equipes e jogadores conseguem obter tais quantias é necessário entender como funciona a divisão de receitas distribuídas em três grupos com diferentes proporções na equação geral. Cada um desses é originalmente conhecido como League Media, NFL Venture and Postseason e Local Revenue, além dos grupos, existe uma espécie de crédito que a liga recebe para capital alocado em planos saúde para jogadores aposentados e “Stadium credits” caridades.

  • O primeiro deles é a League Media, que é composta majoritariamente de grandes fluxos de receitas provindos de contratos bilionários com canais de transmissão e tem o valor total dividido entre 55% para jogadores e 45% para os donos.
  • O segundo deles é a NFL Venture and Postseason, que vem das receitas advindas das diversas filiais de mídia e marketing da NFL, além das receitas dos jogos da “postseason”, com exceção da parte contratada que entra em League Media, e das vendas do pacote de TV para os jogos de Thursday Night Football. Nessa sessão, os ganhos são divididos em 45% para os jogadores e 55% para os donos.
  • Por fim, o Local Revenue é o dinheiro que as franquias da NFL arrecadam e negociam individualmente, seja em pré-temporadas ou vendas de ingressos para jogos em casa. O valor arrecadado é dividido em 40% para os atletas e 60% para o dono.  O chamado “Joint Contribuition Credit” é uma espécie de fundo que lida com crédito para pagamento de quantias para jogadores e ex-jogadores.

Tratando exclusivamente dos jogadores, a parcela que é destinada a eles é chamada de Player Costs (custos com jogadores), e uma parcela dessa compõe o Salary Cap, que é o teto salarial da liga. Players Costs é o valor pago aos atletas, e é calculado pela seguinte fórmula: Player Costs = (55% x League Media) + (45% x NFL Ventures e Postseason) + (40% x Local Revenues) – (47,5% x Joint Contribution Credit). Existem valores máximos e mínimos para essa conta. Já o teto salarial é uma proporção do valor pago aos jogadores e o excedente é destinado a benefícios para os atletas. Para calcular o Salary Cap, não ajustado, basta subtrair benefícios estimados para o ano, do valor total de Player Costs, e dividir pelas 32 franquias.

Franquias da NFL

Para abordar as franquias da NFL, serão analisadas mais a fundo três franquias diferentes, com histórias e organizações distintas. A primeira delas é o Green Bay Packers, que é um associação sem fins lucrativos e possui um General Manager, o Dallas Cowboys, associação com fins lucrativos em que o dono também é o General Manager, e o Indianapolis Colts, em que o dono é diferente do GM. O General Manager (GM) de uma equipe normalmente controla as transações dos jogadores e assume a responsabilidade principal durante as discussões de contrato entre jogadores.

Green Bay Packers

Integrante da conferência NFC Norte, o Green Bay Packers foi fundado em 1919 e é a terceira equipe mais antiga da National Football League. Como dito anteriormente, é uma organização sem fins lucrativos e que pertence à comunidade local, o que pode explicar o fato dos Packers nunca terem saído de Green Bay, cidade com uma população de pouco mais de 100 mil pessoas.

No artigo original da corporação constava que, caso a franquia fosse vendida, depois da quitação de todos os débitos, qualquer dinheiro “restante” deveria ir para o Sullivan Post of the American League, com a intenção de construir um memorial para soldados. A determinação foi pensada dessa forma para que os Packer nunca saíssem da cidade e nunca exista uma vantagem financeira para os acionistas. Em 1997, a instituição beneficiada mudou para a Green Bay Packer Foundation, que faz doações para diversas instituições de caridade em Winsconsin.

No ano de 1950, os Packers levantaram fundos através da venda de ações. Em 1956 , foi aprovada a construção do estádio para a cidade, que, atualmente, possui o nome de Lambeau Field, em homenagem ao fundador do clube, Curly Lambeau. Após diversas outras vendas de ações, como as que ocorreram em 1997 e 1998, foi divulgado, em 8 de junho de 2005, que 112.015 pessoas (representando 4.750.934 pessoas) têm participação na franquia. Os acionistas não tem seus dividendos pagos e as ações nunca aumentam de valor. Além disso, os acionistas não têm vantagem na compra de ingressos, a única vantagem que os investidores têm é o direito de voto. É importante ressaltar que nenhum acionista pode possuir mais de 200.000 ações, para garantir que nenhum indivíduo possa se tornar dono do clube.

Para auxiliar na administração, uma equipe de direção é eleita pelos acionistas e o presidente eleito pela equipe representa os Packers em encontros com os donos dos times da NFL, a não ser que outra pessoa seja designada. A franquia Green Bay Packers é governada por um comitê executivo de 7 membros, eleitos por um quadro de 45 diretores. Esse comitê é formado pelo presidente (Mark Murphy), vice presidente, tesoureiro, secretário e três membros superiores. O presidente é o único que recebe “salário”, os outros membros são voluntários. O comitê é responsável por dirigir as ações da corporação, aprovar gastos e monitorar o desempenho da gestão na condução dos negócios. Além disso, os Packers possuem um General Manager, que, atualmente é o Brian Gutekunst.

O Green Bay Packers é a única franquia da liga que possui esse sistema de propriedade na National Football League, tendo em vista que esse tipo de sistema é proibido pela NFL, que limita cada time a ter 32 proprietários no máximo, sendo um deles detentor de, pelo menos, 30% das ações. Entretanto, o Green Bay Packers já havia essa estrutura antes da regulamentação da NFL. O que torna a equipe de Green Bay a única entre todos os 32 times que postam o balanço financeiro anual, como uma espécie de prestação de contas.

Dallas Cowboys

O Dallas Cowboys é uma franquia localizada em Frisco, Texas, que disputa a conferência NFC Leste. Avaliada em US$ 5,7 bilhões pela Forbes, é a franquia esportiva mais valiosa do mundo. Como dito anteriormente, Jerry Jones, dono do Dallas Cowboys, também é o General Manager da franquia.

Em 25 de fevereiro de 1989, Jones comprou o Cowboys de HR ”Bum“ Bright por US$140 milhões (equivalente a R$292,5 milhões). Logo após a compra, ele demitiu o técnico de longa data Tom Landry, até então o único técnico na história do time. A temporada de 2020 foi a 32ª de Jones como proprietário do Cowboys, atingindo um número maior do que todos os mandatos combinados de seus antecessores.

Jerry Jones é a “cara do time”, uma vez que é o dono da franquia e o General Manager. Ele tem em suas mãos todas as decisões de cunho administrativo, financeiro e esportivo.

Indianapolis Colts

Já o Indianapolis Colts possui dono e General Manager diferentes. O General Manager, Chris Ballard, entrou no Indianapolis Colts após a demissão de Ryan Grigson. Ballard começou imediatamente uma reformulação do plantel, principalmente no setor defensivo. Antes da segunda temporada dele como General Manager, os Colts demitiram o técnico Chuck Pagano e trouxeram Drank Reich como seu novo treinador principal. Os Colts terminaram com um recorde de 10-6 e duas das escolhas do draft de 2018. Além disso, Quenton Nelson e Darius Leonard foram nomeados para o AP All-Pro First Teams. Em 2018, Ballard foi nomeado o Executivo do Ano de Escritores de Futebol Profissional da NFL. Em 11 de agosto de 2021, Ballard assinou uma extensão de contrato com os Colts que vai até a temporada de 2026.

James “Jim“ Jersay é o dono do Indianapolis Colts. O seu pai, Robert Irsay, construiu uma fortuna estimada em mais de US$ 150 milhões por meio de empresas de aquecedores e ar condicionado. Irsay tinha 12 anos quando seu pai adquiriu o Baltimore Colts. Após se formar na SMU em 1982, ele se juntou à equipe dos Colts. Ele foi nomeado vice presidente e General Manager em 1984. Após seu pai sofrer um derrame em 1995, James assumiu mais cargos de importância na equipe e, após uma longa batalha judicial com sua madrasta, Jim se tornou o dono do Indianapolis Colts, sendo a pessoa mais nova a alcançar o cargo na época, aos 37 anos.

Por Pedro Chadad