Na última semana, um grupo de torcedores do Peñarol, clube de futebol uruguaio, foram presos no Rio de Janeiro antes da partida contra o Botafogo e acusados de racismo, dano e associação criminosa.
Esse episódio chamou a atenção da mídia internacional, mas aumentou a curiosidade sobre esse tradicional clube da América do Sul. A goleada do time carioca no jogo da semifinal da Libertadores deixou os botafoguenses felizes, mas também alegrou o lado azul de Montevidéu, lar do Nacional, clássico rival do Peñarol. Mas de onde veio essa rivalidade?
Início da rivalidade entre Nacional e Peñarol
Em 28 de setembro de 1891, 118 funcionários da British Railways Company (72 ingleses, 45 uruguaios e um alemão) fundaram um clube esportivo com o nome de Central Uruguay Railway Cricket Club (CURCC). Os fãs logo começaram a se referir a ele simplesmente como Peñarol, o distrito de Montevidéu onde o time jogava, porque era mais fácil do que dizer o nome inteiro em inglês.
Até hoje, porém, há controvérsias em torno da identidade do clube. A FIFA e a AUF (Federação Uruguaia de Futebol) reconhecem o CURCC como a agremiação original e, portanto, consideram o CURCC e o Peñarol como um e o mesmo clube.
Os fãs do Nacional, no entanto, têm outra teoria. Eles alegam que o CURCC e o Club Atletico Penarol coexistiram por um tempo e até jogaram suas partidas separadamente e se enfrentaram em algum momento durante 1914, o que tornaria impossível que fossem considerados o mesmo clube.
Portanto, os fãs do Decano alegam que seu clube, fundado em 1899, é o mais antigo dos dois e toda a questão, até hoje, é objeto de debate acalorado entre os dois grupos de fãs.
O Nacional, como o nome sugere, foi fundado pela necessidade dos nativos de se distinguirem dos imigrantes britânicos e por praticar um esporte que começou a cativar os uruguaios. Eles precisavam de um lugar para jogar, e a Universidad de la República foi onde os alunos tiveram a ideia de fundar um clube que representasse o povo do Uruguai.
O Nacional nasceu como produto de uma fusão entre o Uruguay Athletic Club (camisas azuis) e o Montevideo Football Club (vermelho). Mais tarde, eles se juntaram àqueles de um clube chamado Defensa (branco).
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Duelo de identidades
O Peñarol, seguido principalmente pelas comunidades estrangeiras e pelos trabalhadores da British Railway, via como seu maior rival o Nacional, o time que representava os locais. Além disso, as pessoas viam no futebol uma maneira segura de expressar seus sentimentos e, em alguns casos, vingar desigualdades.
À medida que a popularidade dos dois times começou a crescer, as diferenças de classe social na cidade começaram a diminuir e ambos os clubes logo tiveram grande apoio de fãs de todas as origens.
Até hoje, o país inteiro fica paralisado quando os dois grandes de Montevidéu se encontram. Uma pesquisa realizada em 2006 pela mídia local, revelou que os gigantes juntos representam cerca de 80% (Peñarol 45%, Nacional 35%) dos fãs de futebol no Uruguai.
Mais significativamente, porém, ambos já foram protagonistas do futebol sul-americano. O Peñarol venceu a primeira Copa Libertadores em 1960 e ganhou mais quatro (1961, 1966, 1982 e 1987), enquanto o Nacional tem três sucessos (1971, 1980 e 1988). Entre eles, eles chegaram a mais sete finais.
Eles também ostentam três “títulos mundiais” cada, com o Peñarol registrando vitórias na Copa Intercontinental Benfica e Real Madrid. Dois anos antes, o Nacional derrotou o Nottingham Forest para manter o bom histórico na competição.
Os episódios de violência contrastam fortemente com o ambiente amigável das ruas históricas de Montevidéu, mas sem dúvidas, uma cidade marcada pela intensidade do amor dos fãs de futebol.
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